terça-feira, 26 de maio de 2015

Eu também te via toda hora. E te achava lindo.

Quando me dava conta do que estava fazendo, desviava o olhar. Mas a maior parte do tempo eu não me dava conta, fazia e só, como se automático. Como se meu cérebro estivesse divido em dois: um que controlava automaticamente minhas ações, outro que observava tudo ao meu redor, inclusive a mim mesma. Essa segunda parte viajava pra dentro de mim a partir do que via por fora, imaginava reações de situações que nada tinham a ver com aquele momento, fazia conexões loucas e confusas que só ela entendia. Eu estava cada vez mais introspectiva e precisei me apegar a um canudinho de pirulito pra sentir o físico, o real, pra voltar a terra.

Com os meus olhos fechados, eu não controlava o meu corpo, enxergava com os ouvidos. Formas geométricas psicodélicas em tons de marrom e preto dançando conforme o grave, o agudo, o trance na minha cabeça. Com os olhos abertos, sempre a procura de algo pra focar, um algo que na verdade não era nada, era só movimento. Eu gostava de prestar atenção no movimento do meu próprio corpo e das outras pessoas, mas como me manter focada na agitação?


E lá estava você. Não sei se pelo fato de estar perto de mim ou de realmente gostar de te ver, mas pouco do que me lembro, muito tem você. A parte automática do meu cérebro te viu rodeado de amigos, viu as pessoas dançando, outras me olhando. A parte viajante viu uma estrela fluorescente no meio da pista, viu um labirinto de mesas e viu você dançando com uma luz azul te cercando que brilhava seguindo seus gestos. O tom azul pode ser facilmente explicado pelas luzes negras que estavam ali na festa, mas eu senti: era uma energia muito forte que você emanava. Se não fosse, meus olhos não te seguiriam.

Eras também o meu canudinho do pirulito: quando viravas em minha direção, eu me dava conta de que estava te observando e gastando há tempos, me dava conta de que tinha me perdido na sua energia; que não sei se foi verdade ou alucinação, só sei que foi bom. E continuei
dançando.