quinta-feira, 29 de setembro de 2016

"Eles têm razão,

essa felicidade
ao menos com maiúscula não existe.
Ah, mas se existisse com maiúscula
seria semelhante à nossa breve pré solidão.
Depois da alegria a pré solidão,
depois da plenitude vem a solidão,
depois do amor vem a solidão.

Sei que é uma pobre deformação,
mas o certo é que nesse minuto duradouro
nos sentimos sós no mundo,
sem ocasiões,
sem pretextos,
sem abraços,
sem rancores,
sem as coisas que unem ou separam.

E nessa única forma de estar só
nem sequer nos apiedamos de nós mesmos.
Os dados objectivos são como seguem:
há dez centímetros de silêncio
entre tuas mãos e minhas mãos,
uma fronteira de palavras não ditas
entre teus lábios e meus lábios,
e algo que brilha assim de triste
entre teus olhos e meus olhos.

Claro que a solidão não vem só,
se olhamos sobre o ombro triste
de nossa solidão
se verá um largo e compacto impossível,
um simples respeito por terceiros e quartos
esse transtorno de ser boa gente.

Depois da alegria,
depois da plenitude,
depois do amor
vem a solidão!

De acordo,
mas que virá depois
da solidão?

Às vezes não me sinto tão só...
se imagino
melhor dito, sei
que além da minha solidão
e da tua
outra vez estás vós
ainda que perguntando-me a sós
que virá depois da solidão?"

- Mario Benedetti -

Inferno astral

Foi uma semana da qual não sinto saudades mas não esqueço. Talvez algumas semanas. Eu só queria que passasse o mais rápido possível.

As coisas não estão legais, bem longe disso. Eu não sei o que é preciso pra ficar legal. E essa falta de conhecimento é mais do que um apelo. Sem metas, objetivos, sem alegria nem tristeza. Pra onde foi minha vontade de viver ou simplesmente de fazer alguma coisa? Nesse momento, eu apenas existo. Apenas sobrevivendo, o porquê ainda não se sabe.
Eu poderia estar transbordando como sempre, cheia de palavras, de visões, ideias explodindo na minha cabeça, com opinião pra tudo mas não. Só vazio. Um imenso, profundo e agoniante vazio. É sufocante. O vazio sufoca. Quanto mais tento respirar, sentir algum tipo de felicidade ou infelicidade, mais apertado fica, não conseguir encontrar o que me faça sair do lugar.
Onde está todo mundo? Por que eles me abandonaram? Eu não entendo.

110

As conversas não rendem mais. Os olhares saudosos se cruzam mas já não sentem mais nada. Já não sentem vergonha, já não sentem prazer. As mãos bobas deixaram de ser bobas. Tudo o que tinham pra dizer... tudo o quê mesmo?

Mas afinal, eles não eram um casal.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

mesmerize the simple minded, propaganda leaves us blinded

Apareceu uma preta do black na tv,
tem outra na propaganda de maquiagem
Minorias ganhando espaço na mídia, será miragem?

Senhores brancos e ricos mandam e desmandam no que podemos assistir
Você acredita que esses senhores se preocupam com você?
Se utilizam desses discursos de aceitação porque querem vender

Vender e ditar meu comportamento
Ser preta pode, mas tem que ser pop
militantes das causas certas não dá ibope

Falam em visibilidade... seria ingenuidade?
Só vejo todo mundo escravo consumindo banalidade
fazendo parte do problema, achando ser solução

Na sociedade perpetua a discriminação
não respeitam minha cor, minha raiz, minha dor
qualquer minoria continua sendo (mal)tratada como inferior

Do que me adianta aparecer na novela,
se o preconceito continua sendo nossa mazela?
Assédio moral, sexual, baixa auto-estima, violência policial reina na favela

Minha visibilidade sou eu mesma quem faço
sem precisar aparecer em nenhuma rede esgoto de televisão
Alguns tentam me humilhar, muitos veem com admiração

Só porque tomei a atitude destemida de me amar
e amando ao próximo enxerguei outras saídas
a luta nas ruas, organizando as famílias, é o que mudará nossas vidas





quinta-feira, 15 de setembro de 2016

~ Henry David Thoreau, “Walden” ou “A Vida nos Bosques”

“Com a minha experiência aprendi ao menos isso:
que se uma pessoa avançar confiantemente na direção de seus sonhos e se esforçar por viver a vida que imaginou, há de se encontrar com um sucesso inesperado das horas rotineiras.
Há de deixar pra trás uma porção de coisas e atravessar uma fronteira invisível; leis novas, universais e mais abertas começarão por se estabelecer ao redor e dentro dela; ou as leis velhas hão de ser expandidas e interpretadas a seu favor num sentido mais liberal, e ela há de viver com a aquiescência de uma ordem superior de seres.
A medida que ela simplificar sua vida, as leis do universo hão de parecer menos complexas, e a solidão não será mais solidão, nem a pobreza será pobreza, nem a franqueza, fraqueza.
Se construíres castelos no ar, não terá sido em vão seu trabalho; eles estão onde deviam estar. Agora colocai os alicerces por baixo.”