quinta-feira, 29 de março de 2018

Mensagem para uma grande amiga:

Bato palmas para sua boa intenção.
Infelizmente, você não percebe que a ideologia que nos sobrou, domina o mundo e é aquela que promove a ganância, o acúmulo e o individualismo.
Sou e serei sempre contra as grandes corporações.
Nunca, o poeta chegará perto de ideologias mesquinhas como muita gente, sem notar, vai se engajando.
Precisamos ficar atentos porque Hitler está renascendo das cinzas.
Lembram da campanha contra Marielle?
-"Ela era a favor do tráfico".
-"Ela era a favor da legalização das drogas".
Ninguém pode ter essas duas posições ao mesmo tempo. São antagônicas.
Lamento, mas não sou a favor da mão de ferro do Estado.
Por outro lado, o poeta nunca será a favor do Estado Mínimo.
No mínimo, o Estado tem que ser equilibrado. Senão, nunca existirá a meritocracia.
Sou mais Lisboa do que Orlando, viu amiguinha?
Escola, saúde, educação, moradia para todos.
Jesus, o humanista e revolucionário, é o meu guia.
Foi crucificado entre dois ladrões.
Pilatos lavou as mãos.
Salve a transposição imaginada desde Dom Pedro II. Salve a água no sertão.
A Justiça também é dominada pelas grandes corporações? Claro. Existe algo por trás da cortina do teatro.
Cuidado com Rússia, China e o Tio Sam? Cuidado com quem nos domina.
Cuidado com Facebook! Olha a eleição de Trump!
As grandes corporações adoram...privatizações !!!
O último apagão foi promovido por uma empresa de energia chinesa.
Água...
Metais.
Natureza.
Valeu a pena privatizar a Vale?
Virou um mar de lama.
Afogou Mariana. Sabias que a Samarco é Australiana? A culpa foi do canguru?
A Vale do Rio Doce empurra com a barriga uma dívida ao IR que se fosse paga e usada na saúde e educação, resolveria esse crucial problema.
O Judiciário é corrompido o induzido para empurrar o processo com a barriga. Daqui a dez anos, não tenhas dúvidas, a dívida será perdoada.
BILHÕES, BILHÕES e BILHÕES !!!!

A internet, nos transforma em mulas e repassadores de mensagens enviadas por marqueteiros que nos usam e nem sequer desconfiamos. Cuidado com os marqueteiros...
Como não pertenço a grupos virtuais, me salvo da "Bolha do Domínio."
Felizmente, permaneço menino, traquino...
Já falava, há muito que estávamos sendo usados, escravizados como mulas e, por isso, sempre foi contestado por aqueles que argumentam:
- "Ele é um adepto da Teoria da Conspiração".
Acredite, não sou não.
Sempre fui um questionador.
A minha professora de filosofia, Bernadete Pedrosa, me ensinou a raciocinar com lógica.
O silogismo é a salvação. Mas, cuidado com as premissas! Quando uma delas é falsa, a conclusão também se torna falsa.
Estávamos em tournée na Europa, no fim da década de 80, e ao passar pela Alemanha Oriental, previ a queda do Muro de Berlim.
Por quê?
Por causa do papel higiênico.
Falei:
-A bunda dos comunistas não aguenta mais essa lixa.
O saudoso Clávio Valença ouviu, sorriu e não acreditou na afirmação do primo doidão.
Conclusão:
Acertei!!!!
O Muro caiu, logo após minha louca afirmação.
Cagada? Não!
Sou chegado ao uso de metáforas e por isso, não agrado a quem não se permite soltar a imaginação. Práticos, retilíneos, dogmáticos!
Sempre levei porrada de todos os lados.
Não, não tenha pena de mim. Já estou acostumado.
Na faculdade de Direito era tido como meio torto.
Doido.
Fui preso no DOPS e nunca vesti a camisa de herói.
Devo confessar que não fui torturado fisicamente, mas aquilo parecia coisa da ditadura do Diabo.
Não gosto do Super-Man.
Prefiro João Grilo.
Lampião para mim é uma metáfora.
O que existe por trás do Cangaço e da Justiça?
Malícia. Milícias.
- O Poder é irmão da policia que é prima carnal do Estado e de uma cega chamada Justiça...
Cega não, dissimulada. Tem um olhinho aberto, que por vezes, só enxerga os inimigos do donos do Poder e do cifrão $$$$$.
Morro de pena dos moradores do Morro.
Olha a previsão:
Um dia desses eu tive um sonho
Que havia começado a grande guerra entre o morro e a cidade,
E meu amigo Melodia era o comandante em chefe
Da primeira bateria lá do Morro de São Carlos.
Ele falava, eu entendia:
Você precisa escutar a rebeldia!
Pantera Negra, FM Rebeldia,
Transmitindo da Rocinha primeiro comunicado:
Por pão e circo e o poder da maioria,
O país bem poderia ter seu povo alimentado.
E era um sonho ao som de um samba tão aflito
Que eu quase não acredito, não queria acordar...
Profecia? Não.
Pensar livremente.
Escola, Saúde, Educação.
Eis a solução para diminuir a violência.
Cuidado com a Bancada da Bala!!!
Cuidado com o boato.
Eu era tido como drogado e nunca fumei um baseado.
Na Ditadura fui Censurado pelo Cenimar,
Continuei a compor e a me expressar.
Segui em frente sem Medo e sem Ódio.
Finalizando, minha doce e querida amiga, atente para isso:
O pré-sal que há pouco era ridicularizado, como inviável, hoje está sendo explorado pela Chevron, EUA
Sheel, Holandesa
Companhia Norueguesa e de outros países ...
Estranho, não é?
Você devia
deveria adivinhar
Que atrás do Samba havia o Semba
Que atrás do Semba havia a África
Que atrás de tudo havia o Açúcar
E a Companhia das Índias Ocidentais.
Primeira multinacional do Planeta.

Açucar é doce,
Doce, doce, doce
como mel
Doce, doce
Doce como o fel
Não acredite,
não tem mistério
O velho é novo
e o novo é velho
É como o Ovo e a Galinha
Se a culpa é nossa
A culpa é minha

Mas que nunca
é preciso DESCONFIAR
Eu desconfio no sentido estrito
Eu desconfio no sentido lato
Eu desconfio dos cabelos longos
Eu desconfio do Diabo a Quatro.

[Alceu Valença]

quarta-feira, 28 de março de 2018

Bilhete


Não me parecias frágil,
via-te doce.
Talvez fosses mesmo forte,
é preciso ser valente
pra decretar a própria morte.

Tinha-te por calmo.
Que rio obscuro e discreto
te puxava para o fundo,
sem saber nadar,
sem ninguém saber de nada?

Não deixaste uma carta,
um poema, um bilhete de suicida.
Como se quisesses dizer
que a morte
não deve explicações à vida



[SILVESTRIN, Ricardo. ]

segunda-feira, 26 de março de 2018

QUE FAZES AQUI?

Julgava que te tinha dito adeus,
um adeus contundente, ao deitar-me,
quando pude por fim fechar os olhos,
esquecer-me de ti, dessas argúcias,
dessa tua insistência, teu mau génio,
tua capacidade de anular-me.
Julgava que te tinha dito adeus
de todo e para sempre, mas acordo,
encontro-te de novo junto a mim,
dentro de mim, rodeias-me, a meu lado,
invades-me, afogas-me, diante
dos meus olhos, em frente à minha vida,
por sob a minha sombra, nas entranhas,
em cada golpe do meu sangue, entras
por meu nariz quando respiro, vês
pelas minhas pupilas, lanças fogo
nas palavras que minha boca diz.
E agora que faço?, como posso
desterrar-te de mim ou adaptar-me
a conviver contigo? Principie-se
por demonstrar maneiras impecáveis.
Bom dia, tristeza.

[Amalia Bautista, Trípticos Espanhóis]

terça-feira, 20 de março de 2018

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte V

INFÂNCIA
As noites me assustavam muito quando
olhava os pântanos
e as árvores desfolhadas
desenhavam solidão

Depois aprendi
que a solidão
é o grande desafio
da presença.

[Nádia Filho - Ilhéus]

INVEJA
O demônio está com inveja
dos governos revolucionários
que se estabeleceram no mundo.
Ah, se esses governos
tivessem um poeta
como instrutor!
Ainda bem que o poeta 
é um torturado
não um torturador.

[Ruy Póvoas - Ilhéus]

Filho das trevas,

Não fites a luz
Ai de ti, se te elevas,
Tu apenas te elevas
Aos braços de uma cruz.
Filho das trevas!

Filho da noite,
A manhã não se afoite
Nunca, nunca se afoite.
Toda a esperança é vã,
Filho da noite!

[s.d. Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.  - 185.]

domingo, 11 de março de 2018

fazes-me companhia?

O Funcionário Cansado - António Ramos Rosa

A noite trocou-me os sonhos 
e as mãos dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos, sumimos-nos,
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música

São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só.

sábado, 10 de março de 2018

Sabedoria de menina

A mãe, já cansada, ordena:
- Vá calçar os pés, menina!
A avó preocupada alerta:
- A doença entra pelos pés, minha filha.

A menina
Despreocupada, enraizada, desarrumada
Reflete sobre a convenção social que a desagrada
E se cala.
Não gosta de viver apertada, limitada
Escorregadia e bem vestida.

Pensava:
Bem vistas aquelas que sentem, puras, a vida.
Espaços vazios são preenchidos
com o excedente da minha mente.
Bagunçada, rabiscada e confusa.
Indisciplinada, agitada e obtusa.

Minha visão em degradê
vai além de dualidades.
Em multidão, mesclo e transformo
minha individualidade.


Selva de pedra

Queria poder viver isolada
Dentro do mato, vivendo do ato
Mas o destino me fez bicho do asfalto
Onde ganha primeiro quem fala mais alto
Anda ligeiro, não olha pro lado
O ser adestrado, agoniado
Alma mutilada num corpo sedado

Vivendo entre ratos humanizados
E humanos bitolados
Aglomerados em gaiolas sem cadeado
- paralisados -
Entre vagar em pensamentos rasos
E se desgastar em prazeres baratos
Sucumbem facilmente por alguns trocados
Vendem sua mentes, pagam o pato

Dentro do ato, vivendo do mato
Ah...
Eu produziria minha própria energia
Plantaria minha própria comida
Os prazeres mais simplórios, celebraria.
Viajaria através do vento
Me perderia pelo silêncio
Rupturas e renúncias trazendo renascimento

Na contramão, vivo no ódio sangrento
Absorvendo frutos fétidos e fetos podres
Crescidos nas cidades de enxofre
Desmatam, poluem, montam seus circos de horrores
Aumentam seus lucros, triplicam as dores
Não importa o lado, sigo oposição
Sociedade decaída
- moral falida, lógica genocida -
A caminho da extinção:
Que rufem os tambores!


~~ PORTO SUL NÃO ~~

Versos perversos

Meus versos são frutos perversos
E que não brotam do nada
Ao contrário dessa coisa tão falada
Da inspiração que vem do espaço etéreo

Eu contestando esse argumento antigo
Digo acordado e assim sonhando, estigo
Versos são frutos com sabores sérios
Insônia, solidão, ou descontentamento

Versos são quase como um testamento
Deixados por homens sombrios

[Lula Côrtes]

domingo, 4 de março de 2018

ANTOLOGIA

Felizmente existe o álcool na vida.
Uns tomam éter, outros, cocaína.
Eu tomo alegria!
Minha ternura dentuça é dissimulada.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Estou farto do lirismo comedido.
Como deve ser bom gostar de uma feia!
Pura ou degradada até a última baixeza
eu quero a estrela da manhã.
...os corpos se entendem, mas as almas não.
- Bendita morte, que é o fim de todos os milagres.

[Carlos Drummond de Andrade]

Meu caro amigo,

Tem que ter muita cachaça, fumaça e carinho pra aguentar esse rojão mesmo. Chico, a coisa não tá mais preta porque preto agora não é sinônimo de depreciação mas de aceitação. A mutreta é muita resistência pra levar a situação. O que eu quero lhe dizer é que a coisa toda tá difícil de suportar mesmo: um governo de oportunistas que corta minha educação, minha saúde, minha mobilidade; uma justiça que legitima a corrupção, que me bate, me revista e me rouba;  a depender de qual cor eu tenha, ela me mata; uma mídia que me engana; um povo que se limita, se violenta e se acomoda. Ainda bem que ao invés de surtar, invadir, contra-atacar, podemos seguir sem pensar. Ainda bem... ainda assim pelo bem de quem?



instável

instante
exato
do estado
mutável