sábado, 23 de dezembro de 2017

De mim, de nós, do nada - Marsa

Santa, profana, de quem és?
Abre a cabeça
e finca os pés

Na imensidão,
no vão,
na alma

Brota do são,
é tão
que acalma

Tanto palavras, quanto sons
São quantas cores?
Quantos tons?

Partem de mim,
de nós,
do nada

Partem de mim,
de nós,
do nada.



online

manda nudes e poesia
a beleza do corpo
com a alma despida.
o lado que irradia
e a parte sombria.
por que se intimida
com o cru da vida?

Sangrando - Gonzaguinha

Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando

Coração na boca, peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando

Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certa que estarei vivendo

Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção

E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar

Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Do CANTO III

72
Não vivo por mim mesmo. Sou só um
Elo do que me cerca, mas se a altura
Das montanhas enleva-me, o zum-zum
Das cidades humanas me tortura.
A criação só errou na criatura
Presa à carne, onde paro, relutante,
Buscando, libertada a alma pura,
Mesclar-me ao céu, aos montes, ao ondeante
Plaino do oceano, às estrelas, e ir adiante.

113
O mundo eu não o amei, nem ele a mim;
Não bajulei seu ar vicioso, nem dobrei
Aos seus idólatras o joelho do sim. –
Meu rosto não abriu risos ao rei
Nem repetiu ecos; a turba, eu sei,
Não me inclui entre os seus. Vivi ao lado
Deles, porém sem ser da sua grei;
E à mortalha da sua mente atado
Estaria se não me houvesse precatado.

114
O mundo eu não amei, nem ele a mim –
Bons inimigos, vamos sem rancor.
Não as achei, mas creio que há, enfim,
Palavras que são coisas, vi a cor
Da esperança e cheguei mesmo a supor
Virtudes sem perjúrio ou falsidade;
Nos prantos dos demais vislumbro dor
Em dois ou três, e penso, de verdade,
Que o bem pode existir e assim felicidade.

– Lord Byron
"Tudo se finge, primeiro; 
germina autêntico é depois."
“Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas — visíveis.”

[Bernardo Soares (Fernando Pessoa) 
do “Livro do Desassossego”.
Lisboa: Tinta da China, 2014.]
"prefiro sonhar na verdade, que amar na mentira"

drástica decisão


dentro da minha solidão,
penso em cada sofrimento do mundo,
lembro de como tudo é imundo,
privações, obrigações, poços sem fundo.

consciente da minha posição,
de colecionadora de dores
e inquisidora de malfeitores,
pereço entre flores.

mas me apego a uma vã ilusão
de merecido renascimento.
ora alento, ora tormento,
conhecimento é amadurecimento.

e então calculo a suposição:
ainda que depressiva e doa a cicatriz,
ainda que aflita entre seres hostis,
só o que me resta é ser feliz.



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

ARTE É ILUSÃO, POIS EU NÃO AJO


Fico ou Parto – com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.

Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.

Neste estado não mundano em que me movimento
Minha Fe e Esperança são diabólica moeda corrente
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor.

[Allen Ginsberg]

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

manda quem tem dinheiro, obedece quem tem medo.
aos fortes, corote e molotov.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

para refletir:

dez frases que foram inventadas - supostamente tiradas de um livro de auto-ajuda - que dizemos ser de um autor pseudo-fodão que todo mundo conhece só de nome.
"Quero falar sobre tudo com pelo menos uma pessoa enquanto falo sobre essas coisas comigo mesmo."

domingo, 10 de dezembro de 2017

Ao Luar (Augusto dos Anjos)

Quando, à noite, o Infinito se levanta
A luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha táctil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado…

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!


sábado, 9 de dezembro de 2017

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… pra me encontrar…

[Florbela Espanca]

- me dê um gole de vida

eu preciso urgentemente
que algo drasticamente aconteça.
diferentes de imposições mornas,
preciso de algo que me impulsione a queimar.
me sinto amena, mas não serena.
vazio angustiante
na sua forma degradante mais sutil.
invento o amor, me apego a dor
na esperança vã
de uma euforia efêmera.
agonia.
pra onde foram os apaixonados?
aqueles loucos desvairados
que se doam, por nada, de bom grado.
ardentes e impetuosos.
aflitos e utópicos.
me façam rir, me façam chorar,
me façam explodir!
eu lhes suplico
o gozo
ou o desgosto,
só não me deixem aqui,
a contragosto, no tédio.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Provérbios do Inferno

No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta. 

Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos. 

A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria. 

A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência. 

Quem deseja, mas não age, gera a pestilência. 

O verme partido perdoa ao arado. 

Mergulha no rio quem gosta de água. 

O tolo não vê a mesma árvore que o sábio. 

Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela. 

A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo. 

A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. 

As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria. 

Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes. 

Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez. 

Nenhum pássaro se eleva muito, se se eleva com as próprias asas. 

Um cadáver não vinga as injúrias. 

O ato mais sublime é colocar outro diante de ti. 

Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando Sábio. 

A loucura é o manto da velhacaria. 

O manto do orgulho é a vergonha. 

As Prisões se constróem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião. 

O orgulho do pavão é a glória de Deus. 

A luxúria do bode é a glória de Deus. 

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus. 

O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora. 

O rugir de leões, o uivar dos lobos, o furor do mar tempestuoso e da espada destruidora são fragmentos de eternidade grandes demais para os olhos humanos.

A raposa condena a armadilha, não a si própria. 

Os júbilos fecundam. As tristezas geram. 

Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha. 
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade. 

O sorridente tolo egoísta e o melancólico tolo carrancudo serão ambos julgados sábios para que sejam flagelos. 

O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado. 

A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes; 
o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos. 

A cisterna contém; a fonte derrama. 

Um só pensamento preenche a imensidão. 

Dizei sempre o que pensas, e o homem torpe te evitará. 

Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade. 

A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha. 

A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão. 

De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de noite, dorme. 

Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece. 

Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus recompensa orações. 

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da educação. 

Da água estagnada espera veneno. 

Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é mais que suficiente.

Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano! 

Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a barba, de terra. 

O fraco na coragem é forte na esperteza. 

A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão, ao cavalo, como apanhar sua presa. 

Ao receber, o solo grato produz abundante colheita. 

Se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser. 

A essência do doce prazer jamais pode ser maculada. 

Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Genialidade. Levanta a cabeça! 

Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar seus ovos, assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas. 

Criar uma florzinha é o labor de séculos. 

A maldição aperta. A benção afrouxa. 

O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova. 

Orações não aram! Louvores não colhem! Júbilos não riem! Tristezas não choram! 

A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a Beleza; as mãos e os pés, a Proporção. 

Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível. 

A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo fosse branco. 

A Exuberância é a Beleza. 

Se o leão fosse aconselhado pela raposa, seria ardiloso. 

O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade. 

Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos. 

Onde o homem não está a natureza é estéril. 

A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada. 

É suficiente! ou Basta.

[William Blake]

domingo, 3 de dezembro de 2017

“A Goeldi”

De uma cidade vulturina vieste a nós,
trazendo o ar de suas avenidas de assombro
onde os vagabundos peixes esqueletos rodopiam
ou se postam em frente a casas inabitáveis
mas entupidas de tua coleção de segredos,
ó Goeldi: pesquisador da noite moral sob a noite física.

 Ainda não desembarcaste de todo
e não desembarcarás nunca.
Exílio e memória porejam das madeiras
em que inflexivelmente penetras para extrair
o vitríolo das criaturas
condenadas ao mundo.

És metade sombra ou todo sombra?
 Tuas relações com a luz como se tecem?
Amarias talvez, preto no preto,
fixar um novo sol, noturno; e denuncias
as diferentes espécies de treva
em que os objetos se elaboram:
a treva do entardecer e a da manhã;
a erosão do tempo no silêncio;
a irrealidade do real.

Estás sempre inspecionando
as nuvens e a direção dos ciclones.
Céu nublado, chuva incessante, atmosfera de chumbo
são elementos de teu reino
onde a morte de guarda-chuva
comanda
poças de solidão, entre urubus.

Tão solitário, Goeldi! Mas pressinto
no glauco reflexo furtivo
que lambe a canoa de seu pescador
e na tarja sanguínea a irromper, escândalo, de teus negrumes
uma dádiva de ti à vida.

Não sinistra,
mas violenta
e meiga,
destas cores compõe-se a rosa em teu louvor.

[Carlos Drummond de Andrade]

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

'Advogados, médicos, bombeiros mecânicos, eles é que ficavam com a grana toda. Escritores? Os escritores morriam de fome. Os escritores se suicidavam. Os escritores enlouqueciam."

[b u k o w s k i ]

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

"Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?"



[F. Pessoa]

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Sem nada de meu

Dei-me inteiro. Os outros
fazem o mundo (ou crêem
que fazem) . Eu sento-me
na cancela, sem nada
de meu e tenho um sorriso
triste e uma gota
de ternura branda no olhar.
Dei-me inteiro. Sobram-me
coração, vísceras e um corpo.
Com isso vou vivendo.

[Rui Knopfli]

sábado, 25 de novembro de 2017

Amor de Schrödinger

“Leve em consideração que, se alguém não te ama, sempre terá alguém que vai te amar”.

Os Truques do Discurso Político

Parecemos estupefactos ao ver a multidão ser conduzida por meros sons, mas devemos lembrar-nos que, se os sons operam milagres, é sempre graças à ignorância. A influência dos nomes está na proporção exacta da falta de conhecimento. De facto, até onde tenho observado, na política, mais que em qualquer outra área, quando os homens carecem de alguns princípios fundamentais e científicos aos quais recorrer, eles tornam-se aptos a ter o seu entendimento manipulado por frases hipócritas e termos desprovidos de sentido, dos quais todos os partidos em qualquer nação têm um vocabulário.

[William Paley]

Ser Livre


É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça. Isto é tão evidente que receio ofender-vos. Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando. Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada. É ser senhor total de si quando se é senhoreado. É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada. É ser-se o mesmo, sendo-se outro. É ser-se sem se ser. Assim, pois, tudo é complicado outra vez.
É mesmo possível que sofra aqui e ali de um pouco de engasgamento. Mas só a estupidez se não engasga, ó meritíssimos, na sua forma de ser quadrúpede, como vós o deveis saber.

[Vergílio Ferreira]

sábado, 18 de novembro de 2017

Pessoa, 1925

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.



Ontem percebi que ano que vem vão fazer dez anos que bebo. Entre idas e vindas, porres e ressacas, não estou mais feliz, realizada nem satisfeita mas pelo menos não me matei, não diretamente, não decisivamente. Aos poucos, talvez, ainda esteja me matando. Aos poucos, talvez, morremos desde que nascemos. Eu sei que historicamente o álcool foi a principal distração usado pelos exploradores nos povos conquistados para que permanecessem pacíficos embriagados e consumidores viciados assinando suas próprias sentenças de morte. E, atualmente, culturalmente vemos a bebida como um escape das obrigações e frustrações que enfrentamos diariamente. Escravos do século 21 que precisam de algum entretenimento para que esqueçam de lutar por um sistema melhor. Divertimento lícito de causa mórbida e futuro sombrio. Gerando capital para grandes empresas continuarem lucrando em cima da desgraça alheia. Mesmo consciente disso e de outras realidades degradantes, não sinto vontade de ser saudável, não sinto vontade de parar de beber, muito pelo contrário, caio na desgraça, feitiçaria e sedução por livre e espontânea pressão, por indecente e moldada vontade.

A todo momento me pergunto: o que você faz, Maria, daquilo que te fizeram? Parte de mim sente amor e quer transformar cada miséria em uma forma singela de gentileza e evolução. Como se assim, fosse superior a quem causa dor. Mas o exercício diário de convivência faz essa parte de mim ser muito pequena. A outra parte, que se faz mais presente, sente raiva e desprezo. Sente vontade de gerar violência e sentir dor. E assim me torno tão medíocre a ponto de sentir vergonha da minha capacidade de ser melhor e me orgulho por estar tão parecida com as pessoas à minha volta. Eu sinto vontade de fazer coisas ruins, não gosto, mas não me controlo também. E isso não é uma dualidade, senão uma mistura do que me ocorre todos os dias. Quero evoluir mas não quero ir sozinha.



quarta-feira, 15 de novembro de 2017

in "O eu profundo e os outros eus"

Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu sou de desperto. Cai de um firmamento desconhecido um orvalho morno de tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro, incerta, altera-me como a brisa aos perfis das copas.

- Sou todo confusão quieta.

{{  tentando não morrer de tédio. }}

O falso mendigo - Vinicius

Rio de Janeiro , 1938

Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda
Quero fazer uma poesia.

Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
E me trazer muito devagarinho.
Não corram, não falem, fechem todas as portas a chave
Quero fazer uma poesia.
Se me telefonarem, só estou para Maria
Se for o Ministro, só recebo amanhã
Se for um trote, me chama depressa
Tenho um tédio enorme da vida.
Diz a Amélia para procurar a “Patética” no rádio
Se houver um grande desastre vem logo contar
Se o aneurisma de dona Ângela arrebentar, me avisa
Tenho um tédio enorme da vida.
Liga para vovó Neném, pede a ela uma ideia bem inocente
Quero fazer uma grande poesia.
Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde
Se eu dormir, pelo amor de Deus, me acordem
Não quero perder nada na vida.
Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
Tenho um tédio enorme da vida.
Minha mãe estou com vontade de chorar
Estou com taquicardia, me dá um remédio
Não, antes me deixa morrer, quero morrer, a vida
Já não me diz mais nada
Tenho horror da vida, quero fazer a maior poesia do mundo
Quero morrer imediatamente.
Fala com o Presidente para fecharem todos os cinemas
Não aguento mais ser censor.
Ah, pensa uma coisa, minha mãe, para distrair teu filho
Teu falso, teu miserável, teu sórdido filho
Que estala em força, sacrifício, violência, devotamento
Que podia britar pedra alegremente
Ser negociante cantando
Fazer advocacia com o sorriso exato
Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
Sabe ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia.

domingo, 12 de novembro de 2017

Carlos Marighella: LIBERDADE,

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

tropeço tropicais

Lá fora a chuva cai,
Incessante, redundante
Alaga de incompetência,
Pinga frescor, goteja dor
Molha meus planos

Da porta pra dentro
Atmosfera de clima tenso 
Corações partidos,
 inquisidores assíduos
Tanto quanto covardes retraídos

No tédio me afogo.
Na tela, o fogo.
Na subversão me encontro.
Penso: o que é preciso para
a revolução cantarmos em coro?

O jogo, encontro, a fuga.
Como uma presa indefesa
do predador sedento por carne crua.
Eu desejando sua carne nua.
Nós, a verdade do mundo e a lua.

Devaneios.

Divertimentos ilícitos.
Clássicos no som sempre bem vindos.
A vida, fazendo jus, imprevisível.
O prazer, santo pecador, irresistível. 

diário de volta: relações humanas

19h: Apresentação do trabalho e está tudo muito desorganizado, sei que posso ser uma boa líder pelo conhecimento adquirido e a criatividade prática, mas falta-me tato para com os outros colegas. Deixo que eles façam, pois não confiam em mim, e sempre o resultado é medíocre, deixo que eles sigam desconfiando e se decepcionando. Mas não consigo ter vontade em mudar isso, gosto de ser distante, minha impaciência pode ser agressiva e talvez, por isso, covarde.

20h: À espera de um desencontro, que seria um encontro mas eu já sabia que não ia acontecer. É só observar os pequenos detalhes - havia pensado nisso mais cedo - são tão esclarecedores que chego a comparar como uma mediunidade quase vidente. Na prática é só observar os padrões que se chegará às conclusões. Relacionamentos honestos são raros e é neles que cresço e me entrego. Relacionamentos superficiais ou indigestos só me satisfazem o ego, não nego, mas não quero. Tantos desencontros. Em quem posso confiar? Com quem devo me perder pro que podemos encontrar?

21h30: Estou numa roda de amigos e tenho que ir embora, os cumprimento de longe, nada muito próximo ou afetivo, o que é estranho, acho, mas não me importo apesar de ficar com uma pulga atrás da orelha se eles se ofenderam ou não. Desejo um boa noite apenas, simples e verdadeiro, assim como minha relação com eles, simples e verdadeira, espero que eles entendam e gostem. Eu gosto.

22h10: Subindo a ladeira, um desconhecido vizinho me repreende por nunca ter conversado, pede meu número e sinto um ar superior vindo dele, ignoro. Mais a frente na rua, outro vizinho desconhecido diz que me ama e quer uma chance, esboço uma cara confusa. Me pergunto que tipo de bosta esses caras tem no lugar do cérebro. Me pergunto se devo temer. Será que eles esperam realmente que uma mina se interesse por essa conversinha? Será que tenho que passar a andar com um canivete? Quanto custa um soco inglês?

0h: Agora aqui, percebo a complexidade da coisa toda. A individualidade que criei e influenciada pelo meio em que vivo junto a tantas outras individualidades. Principalmente essa análise que faço de mim mesma e como isso é angustiante - reconhecer minhas disformidades e imperfeição do mundo - e encantador ao passo que me conheço e busco uma melhora e solução. Evolução é o meu conceito-salvação.
- Maria, o que cê tá fazendo?
- O que você acha?
- Merda, como sempre.
- Exato.

domingo, 5 de novembro de 2017

Jorge Salomão:

em mim não habita o deserto que há em ti
minha alma é um oásis luminoso
você constrói sua jaula, e nela quer ficar
cuidado
eu faço o que acho que deve ser feito na hora certa
existe diferença entre paixão e projeção?
será que terei de me tornar um insensível
só pra suprir a demanda do mercado atual?
quanto mais eu me acho mais eu me perco
que os tambores batam
e que tudo se acenda forte!

sábado, 4 de novembro de 2017

Poema de canção sobre a esperança

I

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios —
Os melhores lírios —
E as melhores rosas
Sem receber nada.
A não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.

II

Usas um vestido
Que é uma lembrança
Para o meu coração.
Usou-o outrora
Alguém que me ficou
Lembrada sem vista.
Tudo na vida
Se faz por recordações.
Ama-se por memória.
Certa mulher faz-nos ternura
Por um gesto que lembra a nossa mãe.
Certa rapariga faz-nos alegria
Por falar como a nossa irmã.
Certa criança arranca-nos da desatenção
Porque amámos uma mulher parecida com ela
Quando éramos jovens e não lhe falávamos.
Tudo é assim, mais ou menos,
O coração anda aos trambolhões.
Viver é desencontrar-se consigo mesmo.
No fim de tudo, se tiver sono, dormirei.
Mas gostava de te encontrar e que falássemos.
Estou certo que simpatizaríamos um com o outro.
Mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento
Em que pensei que nos poderíamos encontrar.
Guardo tudo,
(Guardo as cartas que me escrevem,
Guardo até as cartas que não me escrevem —
Santo Deus, a gente guarda tudo mesmo que não queira,
E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair
Através dele até mim!
Enfim, tudo pode ser…
És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis —
E a minha visão de ti explode literariamente,
E deito-me para trás na praia e rio como um elemental inferior,
Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto.
Boa noite na Austrália!

Álvaro de Campos 
17-6-1929

[ou não]

Pode não ser poesia.
Um conto, talvez, poderia.

Pode não ser poesia.
Subjetividade sem disciplina
- disseram-me - não adiantaria.

Pode não ser poesia.
Ao sentir não cabe forma.
Indaguei: quem ousaria?

Pode não ser poesia.
Mas é.

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte I

Venho buscar a justiça
Acender uma tocha
Tirar dos meus versos a certeza
concreta, humana e
sem mentiras
do que resta. 
 
É de sangue e coração
esta denúncia sem sol nem glórias
e tão apaixonada. 
É de incertezas e lágrimas
a estrada desses que falam de amor
e caminham sozinhos. 
É triste e amaldiçoada
a morte dos poetas que caem,
tombados. 
É infinita, secular e certa
a ressurreição dos fortes
numa cerimônia democrática.
[Antônio Júnior - Itabuna]

MOMENTO 
Busquei um lugar de paz
construído na crença do HOMEM,
preservando assim o sonho dos iniciantes
que possuem olhos utópicos.

Falhei!

O HOMEM não persiste na luta,
o lugar de paz não existe,
o sonho foi a única realidade aprendida: é UTOPIA.
E eu permaneço como sempre: só!

INDAGAÇÃO
Por que não me avisaram que os homens partiram?
Por que não me disseram que a partida é exigência primordial do viajar?
Por que não me contaram que os homens morreram?
Por que não me acordaram para ver a barca naufragar?

Por que?
Por que não?

Por que não me amaram?
Por que vieram me dizer que o meu trem de ilusões partiu?
Por que vieram em contar que meu carrossel de lembranças quebrou?
Por que me disseram que minha infância morreu?
Por que me explicaram que minha adolescência cresceu? 
Por que me ensinaram que a saudade é coisa do passado?
Por que me vaiaram quando eu perguntei pelo Amor?
Por que me crucificaram quando eu preguei a Amizade?
Por que me cuspiram quando eu lhe chamei de Amigo?
Por que correram quando eu abri os braços em abraços?
Por que fecharam portar quando eu perguntei por Caridade?
Por que taparam os ouvidos quando eu falei em Solidariedade?

Por que?
Por que gritaram num coro Realidade?

[Ana Virginia Santiago - Ilhéus]




quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Adriano Dias

Cansado,
Aceito
O sim, o não, o assalto, o açoite, o acidente.
Aceito os argumentos estúpidos,
Só falácias, eu sei, mas contundentes.
Aceito o falso moralismo
Em seu escrúpulo tão bem interpretado,
Com nojo, mas sem luta.

Derrotado,
Assumo
As culpas que me imputam,
Mais as que me inventam,
E me deixo levar ao cadafalso
Com a leveza amarela,
Ainda que libertadora,
De quem não achou fresta na malha de ódio
Por onde escapar.

Submetido,
Admito:
Os bichos ternos são trucidados justamente por sua ternura,
Servindo, em seguida, como estandarte para um próximo massacre,
Em seu nome, que ironia.
Em vida, a voz constrangedora do amor é sangue escorrendo em águas de tubarões.
Foi assim com todos os mártires,
E eram tão melhores que eu,
Mereciam tão menos a barbárie que sofreram.
Mas é ao que servem, os doces,
Após mortos são mais úteis.

Abatido,
Além de descansar,
Talvez eu fique maior
E seja útil à manutenção da raiva,
Essa, sim, força motriz do homem.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Inteligência emocional por Pedro Calabrez

Você não pode controlar suas emoções, pelo menos não diretamente. Controlar as emoções na raiz é impossível, nosso cérebro não tem essa capacidade. O que pode ser feito é controlar certos comportamentos e esses comportamentos vão fazer com que haja uma alteração emocional.

Inteligência emocional é você ser capaz, em primeiro lugar, de entender seus processos emocionais; as pessoas tem perfis emocionais diferentes, é necessário entender como as emoções ocorrem dentro de nós e dentro das outras pessoas. Em segundo lugar, é haver a compreensão das melhores formas de agir mediante esse primeiro entendimento: "Agora que eu entendo como as emoções funcionam, como é que eu faço pra agir melhor?''


[p/ Estúdio FUNDAP - 2015]

"O verbo nem sempre se materializa"

Disseram-me: a amo.
"Te quero tanto, acalanto..."

Caçoaram-me: a odeio. 
Assim, sem rodeios nem receio.

No fim, decretei a mim:
Tome tento, é só tormento. 
Palavras se vão com o vento...

domingo, 29 de outubro de 2017

ACREDITE, ACREDITE - Bob Kaufman

Acredite nisto. Sementinhas de maçã,
No azul do céu, irradiando peito jovem,
Não em insetos de terno azul
Que infestam vestes da sociedade.

Acredite nos sons do balanço do jazz,
Rasgando a noite em tiras intrincadas
E novamente reunindo tudo
Em padrões lógicos bacanas,
Não nos controladores doentios
Que criaram apenas a Bomba.

Deixe as vozes dos poetas mortos
Tocarem alto em teus ouvidos
Mais do que os guinchos vozeados
Em editoriais mofados.
Escute a música dos séculos
Crescendo sobre o tempo em cogumelo

Mario Quintana

Mas afinal, meu velho, por que nunca pensaste em casamento?
- Prefiro a solidão propriamente dita.

Paixão

Ele não gosta
Dos muito apaixonados
Que seguem hipnotizados
Por livre querer.
Ela gosta
De quem não sabe se conter.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

António Ramos Rosa, in “Viagem Através de uma Nebulosa”

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Mastigue - Posada

Viver
Viver em desconfiança
Dois pesos e duas medidas
Pra tudo que tem importância

Cortar
Ferir com os passos da dança
Magoar o mau amigo
Arrancar do destino a trama

Se a felicidade não é algo
Que se possa sonhar
É melhor esquecer e partir pra outra

Se a felicidade não é algo
Que se possa tocar
É melhor esquecer e partir pra outra

domingo, 22 de outubro de 2017

Albert Einstein

arte por Banksy
"O importante
é não deixar
de questionar;
a curiosidade tem
sua própria razão
de existir. "

domingo, 15 de outubro de 2017

Elegia 1938 (Carlos Drummond de Andrade)

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

No ônibus

Assisto a natureza pelo vidro da janela,
Espectro visível furta-cor.
Vejo a vida em sua forma mais bela,
Receptores enfeitam minha passagem incolor.

O aroma doce da ilusão, na ida
Guiou meu caminho para ir de encontro ao teu.
O gosto amargo da verdade, na vinda
Me prova que segui-lo foi engano meu.

Pela cidade, hostilidade fértil
Para cada dor, um projétil de calibre incerto
No interior, serenidade fecundo
O que tenho eu a oferecer ao mundo?

O mal não é uma pessoa
Ou um sistema político-econômico
O mal ressoa, denominador comum,
indômito, dentro de cada um.

Passeio através das percepções
Privações me moldam, sem me restringir
Devaneio com minhas apreensões
Libertações me prendem como uma missão a seguir.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Florbela Espanca - Correspondência

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

em "História do Pensamento Econômico" p.14

 O ensaísta francês Michel de Montaigne escreveu, em 1580: "O lucro de um homem
é a desgraça do outro... Nenhum lucro, qualquer que seja, pode ser alcançado, a não ser à
custa do outro."

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Fernando Pessoa em 'Cancioneiro'

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

93/365 - Jó Rodrigues

"Saber que se eu atravessar este minuto sempre poderei me matar no próximo torna possível atravessar este minuto sem ser totalmente destruído por ele. O suicídio pode ser um sintoma da depressão; é também um fator que a suaviza. A ideia do suicídio possibilita atravessar a depressão."

domingo, 24 de setembro de 2017

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Enxugando gelo - BNegão

[trecho]
Minha mente é como um quilombo moderno:
lugares para todos os pensamentos refugiados
pela insensatez reinante no planeta terra.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Carente de profundidades II

Eu sei que não sou a única a sentir isso, mas pareço ser a única a me sentir assim, porque as pessoas vestem suas máscaras e é muito difícil enxergar como elas realmente se sentem. Eu já tenho minhas inseguranças que me frustram e me limitam e não me sinto a vontade em me submeter às inseguranças dos outros; digo, se eles admitissem, eu entenderia, se eles desabafassem, eu ouviria e, antes de qualquer coisa, os respeitaria. Mas eles se camuflam e interpretam personagens de modo que eu fico sem paciência pra tentar decifrar a verdade por trás das cortinas. É tudo muito confuso. Tão confuso passar os dias como se nada estivesse acontecendo mesmo tudo acontecendo, porque ninguém te ouviria ou entenderia, sendo que todos também precisam de ouvidos e compreensão. Fala-se tanto da superioridade intelectual dos seres humanos, comparados aos animais, exaltando nossas capacidades cognitivas, mas enquanto nossas qualidades são superestimadas, nossos defeitos, sob fingimento dos ignorantes e hipócritas sequer existem. Mas existem. Milhares de mentes depressivas, corrompidas e suicidas não é mero acaso.

autogestão

devemos parar de esperar que façam por nós
e fazer nós mesmos.
isso é sobre escolhas individuais
mas também é sobre ações coletivas.

Amei Demais, Joaquim Pessoa


Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei

à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.


domingo, 10 de setembro de 2017

“Ah, perante esta única realidade, que é o mistério” – Álvaro de Campos

(trecho)

“Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas ideias que tremo, com a minha consciência de mim,
Com a substância essencial do meu ser abstracto
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!

Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
Ah, não, nenhuma — nem morte, nem vida, nem Deus!”

sábado, 9 de setembro de 2017

1912

Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.

Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.

Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.

Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.

Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.

[Anna Akhmátova]






















Adeus - Judith Teixeira

Sim, vou partir.
E não levo saudade
De ninguém
Nem em ti penso agora!
Julgavas que a tristeza desta hora
Fosse maior que a firme vontade
Que eu pus em destruir
O luminoso fio de ternura
Que me prendia ao teu olhar?
Julgaste mal:
Eu sei amar,
Mas meu amor
O que eu não sei
É ser banal!

Mas por que vim eu escrever-te ainda?
Nem eu sei!
Talvez somente
O hábito cortês da despedida
- e o hábito faz lei!

Choro?! Oh, sim , perdidamente!
Mas sabes tu, por que este pranto
Assim amargo e soluçado vem?
É que na hora da partida
Eu nunca pude sem chorar
Dizer adeus a ninguém!


terça-feira, 5 de setembro de 2017

Bolero Filosófico - Dj Dolores

A noite miro a cidade lépida
Glorificada em edifícios sólidos
E me confronto com a crença humana
Alimentada por desejos sórdidos

Resta portanto a ilusão romântica
Vestindo o corpo de mulheres languidas
E a redenção pela metamorfose
Do iconoclasta para o tipo nobre

Quem sabe um dia eu me acabo em tédio
Mesmo vivendo neste alegre trópico
No carnaval só restará o álcool
Para afogar tal pensamento mórbido...




domingo, 3 de setembro de 2017

Agalopado - Alceu Valença

(...)

"E faço a lua brilhar no meio-dia,
Tempestade eu transformo em calmaria
E dou um beijo no fio da navalha
Pra dançar e cair nas suas malhas.
Gargalhando e sorrindo de agonia,
Se acaso eu chorar não se espante,
O meu riso e o meu choro não têm planos
Eu canto a dor, o amor, o desengano
E a tristeza infinita dos amantes.
Don Quixote liberto de Cervantes
Descobri que os moinhos são reais.
Entre feras, corujas e chacais
Viro pedra no meio do caminho
Viro rosa, vereda de espinhos 
Incendeio esses tempos glaciais..."

sábado, 2 de setembro de 2017

Descolonização I

Exploração de temperos,
Desmatamento de culturas.
Trocar a terra por espelhos é exagero;
A história verdadeira é obscura:
Procura, tortura, sepultura.

Extração da população,
Evacuação dos minérios.
Vindos de outro hemisfério
Sem concessão, destinaram-nos a condenação:
Colonização, mutilação, destruição.

Imperialismo, o verdadeiro terrorismo.
Por todo o planeta, várias facetas
Sangrando a terra, inundada por guerras,
Povos conquistados beirando o abismo:
Eugenismo, cristianismo, genocídio.


Apreensões #1

Eu poderia escrever os versos mais bonitos esta tarde. Escrever como o meu mundo fica mais iluminado sendo você a fonte de luz. Como eu imagino nós dois nos aventurando numa rotina entediante qualquer. Só nós dois. Como eu esperei alguém assim como você, sem nem mesmo te conhecer. Eu te dedicaria todas as músicas de barzinho clichês do Djavan, e teria descrito como você se parece com um jardim cheio de flores coloridas num dia ensolarado; eu adoro flores, cores e dias ensolarados. Nos casaríamos, teríamos filhos e viveríamos como se tivéssemos cumprido nosso papel no mundo.

Seriam os versos mais tristes também. Há algo de errado nessa forma como aprendemos a nos relacionar. Esse amor romântico mais tem a ver com sacrifícios do que com realizações. Não há liberdade, só grades e desgastes buscando remediar uma solidão que não tem solução. Não há nada que possa a substituir, ela precisa ser sentida, compreendida e acolhida. E nessa busca de plena satisfação, de sexo, amor e ego, nos tornamos cegos. Tantas ilusões e frustrações tive que superar para notar que o que fazemos e esperamos está errado. Se nem nós mesmos somos capazes de nos bastar, como deixar essa responsabilidade pro outro que está igualmente perdido e desiludido? É um fardo muito grande a se levar.

Percebi que esses padrões sociais e essas imposições tradicionais apenas nos limitam em nossas relações, nossa criatividade, nosso intelecto. Nos tornamos medíocres quando cada ser é um infinito ímpar, tendo também infinitas possibilidades únicas de se relacionar. Cada vínculo deve ser construído com base no diálogo das preferências e no respeito às individualidades. Consentidas privações afim de libertações conjuntas. Tentativas e erros, algumas dores e sofrimentos são válidos se o objetivo for a liberdade de expressão e sentimento, ou algum melhor entendimento sobre as nossas capacidades de amar a quem quer que seja do modo que for. O exercício é compreender a si e ao outro para melhor adaptar o seu afeto e sentir menos dor, receio e medo. O que aprendemos é inadequado, nada razoável, até intragável; o que apreendo é muito mais legitimo e verdadeiro do que regras e apegos que só servem pra enaltecer o ego através dos sentimentos. É preciso subverter a nós mesmos.

fb.com/poetainverso - Jão Paulo Costa Souza

# Amendoeira
a amendoeira marota
balança, balança
em passos verdes
no salão do vento
que bela dança
envolta pela brisa
que cheira à maresia
brisa úmida,
morna, macia
amendoeira verdejante
dê-me sua sombra
ao meio dia
dê-me seu tronco
onde quero me encostar
e assoviar aquela música
enquanto admiro o mar

# Hiato
Por não ter
Sou grato
Mas, espero
Que na gratidão
Dos meus atos
O meu desejo
Seja de fato
Considerado
E que desvie a minha vontade de viver outra vida, 
fazer o que eu realmente amo, 
o que eu realmente quero fazer, 
desde que entrei nesse hiato
Preciso sentir o cheiro
Que exala dentro do mato
Aroma suave que vive,
Acaricia o meu olfato
E me faz sentir livre

#26
vira flor todo dia
se veste bonita
e vira flor
sapato amarelo e branco
de margarida
frascos de tinta
e se enfeita
se perfuma toda
se pinta
desenha na pele
insiste, se fere
e acredita
queria que ela soubesse
que enquanto tenta virar flor
por fora, assim
o que eu vejo nela
por dentro
é um belíssimo jardim

#4
refletida no espelho
Daqui te vejo
tão forte
O meu desejo
não quero
Só um beijo
na mente
Te despejo
não quero
Ser seu dono
me inspira
O abandono
e me deixa
Sem sono
se lhe tenho
Lhe como
mas, não tenho
Então, sonho.

#1
A madrugada é fria
Frios são meus sentimentos
A noite é calma
Calma como meus pensamentos
Pros vivos, a alvorada
Pros desesperados, a madrugada
Não quero mais
Nem por um momento
Expor os desajustes
Que tenho por dentro
Minhas palavras são como vísceras
Se expostas, são nauseantes
Pedaços repugnantes
De uma mente inconstante
Sobre pernas errantes
Prefiro que apodreçam
Aqui por dentro
E, como carcaças sobre a terra,
Desapareçam com o tempo


Nenhuma lágrima - Bruno Alcantara

Danem-se as cartas de amor.
As esperas no elevador.
Andar de mãos dadas na Avenida Paulista,
ou não andar.
Andares, andares e prédios desperdiçados
por não tentar.

Tanto faz os planos, os anos, o beijo
sempre ausente que já não mereço.
As trocas de olhares oportunas e
a tensão que pensei haver entre nós.

Nenhuma lágrima, minha flor.
E eu que esperava sofrer tanto,
querer tanto te ouvir em breve.
E o sofrimento virou sono, um sono inerte.
E as palavras que guardei, perdi em algum
lugar em mim que já não tenho.

No máximo um bocejo, eu te dedico.
E o meu gracejo,
– Vulgo e despido amor, maldita flor!
Eu lhe suplico que note
a minha indiferença
e que saiba
das noites em claro que não passei.

Danem-se as palavras de amor
que eu te escrevi
eu me esqueci
de me conter.

Danem-se os caminhos
que eu não construí
pelos quais eu não pude
jamais lhe perder.

Sem nenhuma lágrima.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Fiódor Dostoiévski, ' O Sonho de um Homem Ridículo'

"...por um motivo qualquer fiquei um pouco mais tranqüilo. Por um motivo qualquer, justamente, porque até hoje não sei bem por que motivo. Talvez porque na minha alma viesse crescendo uma melancolia terrível por causa de uma circunstância que já estava infinitamente acima de todo o meu ser: mais precisamente - ocorrera-me a convicção de que no mundo, em qualquer canto, tudo tanto faz."

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

– Carolina Maria de Jesus

“Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.”

#

“Depois de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguém pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!
Quando eu morrer…
Não quero renascer
é horrível, suportar a humanidade
Que tem aparência nobre
Que encobre
As péssimas qualidades

Notei que o ente humano
É perverso, é tirano
Egoístas interesseiros
Mas trata, com cortesia
Mas tudo é hipocrisia
São rudes, e trapaceiros”

#

“Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quis fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.”

sábado, 26 de agosto de 2017

Crise

Esse ritmo quase inexistente
de evolução das ideias, relações,
sociedade, tecnologia.

Não é brasileira, é mundial.
Não é recente, é persistente.

Convite

A sociedade que tem
sede de evoluir
deve os alicerces
arcaicos ruir.

A necessidade
nos obriga
a complicar o caso.
Não há espaço
para vitórias por acaso.

O inimigo é real e a luta,
ainda que diversificada,
deve ser unificada.

Não mais discurso demente
e postura alienada
fortalecendo quem nos despreza.

É hora da festa!

Paraíso

Lugar destinado às pessoas
que, ao sentirem medo da morte
e a dor do vazio existencial,
se paralisam na ignorância
diante do infinito.

Porque não é satisfatória
a vida por si só, na sua forma
simplória, na Terra.

Para guiar nossa burrice,
para acalmar nossa solidão,
é preferível inventar um sentido,
uma direção, um lugar pós-vida.

Já no meu delírio pós-morte,
só o que me resta é ser energia.
Bravura para voltar ao nada
sendo tudo, eu e o Cosmos em sintonia.

fragmentos #3

Problemas inventados, legimitados
Ocupam muito espaço
Da nossa vida,
A rotina que impossibilita
O despertar pra uma nova sina
.
Muitas contas a serem pagas,
Ideologias extraviadas,
Só temos escolhas já determinadas.
Não é liberdade tanta futilidade.
Se sacrificar por
Uma mínima dignidade
Não é pouca bobagem.

O sofrimento gera o apego
desnecessário a coisas desnecessárias.
Partidos, mártires, falácias,
Seitas, regras e tradição.
Rebanho de fácil manipulação.

A ignorância tapa a visão
De que não é preciso um herói
Para acabar com o vilão,
Não é preciso um general
Pra definir sua missão,
Não é preciso um deus
Para suavizar sua aflição.

Indo a fundo na história
Percebo que o que somos
É a consequência do que fomos,
E o quanto essa realidade é ilusória,
De mentalidade compulsória.

O destino não é algo predeterminado,
Imutável.
É o resultado do desencadear dos fatos,
Um fardo.
E pode ser facilmente controlado.

Governe-se!
Ou serás governado.
"Antene-se"!
Ou serás alienado.

Maconha pro câncer,
LSD pra depressão.
O caminho pra destruição
É a desinformação.
Monopólio, propriedade, ambição.
A solução não é mera educação:

Inteligência não-distorcida,
Postura combativa,
Viva sociedade alternativa!

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Lei do cão

Uma sociedade nada gentil
Mais preocupada em punir
Sem refletir nos porquês
O filho deste solo quis fugir
Da sentença de sofrer

Bandido bom é coisa de perspectiva
O menor sem educação
Aprende na escola da vida
Que vale de tudo para conseguir o pão
Ainda que seja uma missão suicida

O playboy com tudo em mãos
Não sabe se satisfazer
Se alia em banquetes com outros ladrões
Rei, rainha, bispo e até oposição
Deixando os peões sem ter o que comer

A justiça de olho na comissão
Deixa livre o playboy corrupto que nega
E finge ser cega
Quando o menor escorrega
E precisa de compreensão

Pro playboy, absolvição;
Pro menor, camburão.

na luta contra a procrastinação...

Sim, é difícil romper a tendência de culpar terceiros e assumir os remos da própria existência, mas esse é o exato porto de onde parte a maturidade em direção ao cumprimento da missão de vida.
Existe cura para o desânimo e a procrastinação; ela é simples, acessível e pública, muito embora não seja simplória, fácil ou popular.
Primeiramente, tens que decidir com exatidão o que desejas, estabelecendo objetivos para cada aspecto de tua realidade. Isto feito, e é um desafio, já tens metade do caminho andado.

O passo seguinte consiste em aplicar-se com determinação no compromisso diário de ir além, fazer mais um pouco, progredir e melhorar-se:

1. Levante-se no primeiro minuto que acordar, evite a postergação.

2. Tenha um check list do que fazer no hoje. Sempre.

3. Diariamente observe a fotografia e textos de exemplos altamente eficientes no campo que escolheu para ti também.

4. Modere-se em falatórios, distrações e atividades distantes de tuas metas.

5. Refine teus hábitos alimentares e faça alguma atividade física. Diariamente.

6. Cerque-se de pessoas, leituras, perfis, histórias e imagens auspiciosas.

7. Agradeça, visualize, afirme, evoque e invoque com máxima sinceridade e força a inteligência, beneplácito e sincronicidade Cósmica.

por Caciano Camilo Compostela, Monge Rosacruz

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Charles Baudelaire - Embebedai-vos (XXXIII)



É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a única questão. Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-vos para a terra, é preciso embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos
E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de embebedar-vos! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos, embebedaivos sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa.”

sábado, 19 de agosto de 2017

Mestre Jonas [Sá, Rodrix & Guarabyra]

Dentro da baleia a vida é tão mais fácil,
nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas.
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora,
a baleia é mais segura que um grande navio.

E ele diz que se chama Jonas e ele diz que é um santo homem,
e ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria.
E ele diz que está comprometido e ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia até o fim da vida,
até o fim da vida, até subir pro céu.


link da música

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Afinador de silêncios - Mia Couto

“Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.”

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

deleite #1

Toques macios e obscenos,
Dedos gentis e depravados.
Eu me molho.
Enquanto você
E esse olhar safado
E essa língua indecente
Desfrutam incessantemente
Dos meus lábios
Deliciosamente.
Prazer a cada movimento seu.
Prazer em cada gemido meu.
Consciência perdida em carícias,
A espinha se contorce
E a pele arrepia.

escombros #2

Terminou.
Como se não tivesse chegado ao fim.
Como se ficasse algo por dizer.
Como se o melhor estivesse guardado pr'um final
Que não veio.
O que veio foi rápido demais,
Magoado e sem jeito.
Sem maiores explicações,
Só deixou de ser.
Dentro do meu peito
Sensação de que ficou pela metade,
Uma inquietação,
Saudade.
Do paraíso ao abismo
do bem querer.

Mulheres do fim do mundo

A questão da descriminalização do aborto no Brasil é racista, classista e machista. Nós já sabemos: mulheres ricas, em sua maioria brancas, se desejam o aborto, tem condições de viajar para um país onde é legal abortar e fazer o procedimento sem perigo algum. O cenário é totalmente inverso se são mulheres pobres, em sua maioria pretas, que além de conviver com a violência social tem que enfrentar a violência de gênero. Se querem abortar, não tem a quem recorrer, se sujeitam a procedimentos nocivos à saúde e correm o risco de serem presas, se sobreviverem. Isso porque a bancada apocalíptica da política que rege o país, formada em sua maioria por homens, em sua maioria brancos, decidiu que era proibido, numa disparidade absurda com a realidade das mulheres negras.

Os argumentos pró-vida não convencem pois não condizem com os fatos. Como falar de pró-vida para uma mulher de periferia que vê os filhos teus morrendo de fome? Pró-vida onde a violência reina e mata todos os dias? Pró-vida existe nas mãos da polícia? Você quer que essas mulheres parem de abortar? Então melhoremos as condições de vida da população pobre, criemos políticas públicas que deem a certeza para a mãe preta de que seu filho preto não irá morrer de fome nem ser assassinado porque o "confundiram" com um bandido, por ter a cor que o racismo adora violentar.

Sem precisar falar que proibir nunca impediu ninguém a nada. E que, enquanto a gestão política for governada por burgueses e religiosos, nós mulheres, nós pobres, nós pretas, nunca teremos direitos plenos de liberdade e sobrevivência. Permanecer marginalizadas é lucrativo para esses governantes. Esperar e até mesmo reivindicar os direitos básicos para esses senhores soa como uma piada de mal gosto. Busquemos outras alternativas, então. Para melhorar temos que estar esclarecidas de nossa situação e de nossa comunhão. Como ajudar umas às outras? Como cuidar de nossas mulheres e nossos homens? Como proteger nossas vidas e famílias?

fragmentos #2

O que esperar de um sociedade machista?
Às mulheres, negligência.
E o que esperar das mulheres?
Desobediência!

fragmentos #1

Por que muitos se perdem no caminho ?
Não há frutos de seus pensamentos;
suas obras terminam antes de começar a ação
e por isso sua fala, por mais bonita que seja,
se torna vazia.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

racionalizar para atuar

em que parte dessa dinâmica estamos? e ao reconhecer esse ponto, usá-lo como partida para a transformação que buscamos. em que momento do capitalismo estamos inseridos? a qual fase socio-econômica estamos impostos? como andam nossos direitos e deveres sociais? existe de fato a cidadania ou a democracia? como nos comportamos coletivamente? o que espera e faz o nosso individual? em que teoria basearemos nossas ações?


Hoje eu sugeri a um conhecido montarmos um grupo de estudos anarquistas, já sei como é difícil unir um grupo de estudos ainda mais voltado a essa temática, há muitos interessados para pouca articulação. Mas ficamos animados, subversivos do status quo e revolucionários de todos os locais e tempos devem sempre contar com a insuficiente quantidade de pessoas comprometidas de fato com a causa.

Mais tarde durante a aula de evolução do capitalismo, o professor fez uma citação a Bauman e a modernidade líquida, exemplificou falando como somos bombardeados de informações através da mídia e da internet e o quanto isso não nos deixou mais intelectuais, pelo contrário, nos burrificou, somos uma multidão de defensores de opiniões sem conhecimento algum. Ele fez essa correlação para explicar como o capitalismo não foi uma coisa dada pronta e validada imediatamente, mas um sistema dinâmico de transformações sociais e econômicas no decorrer da história humana, e se consolidando até hoje ao se adaptar de acordo com as necessidades e contexto de cada época. Não adianta querer derrubá-lo só por derrubar, se faz necessário um conjunto de entendimentos e processos para se desenvolver um outro conceito de sistema político-econômico.

Foi aí que eu lembrei do grupo e percebi que precisamos ser realistas ao criar nossa teoria se de fato aspiramos grandes mudanças. A utopia é muito gostosa de se apegar, ela nos mostra um lugar lindo e harmonioso em meio ao caos e a irracionalidade. Mas ela só serve como um horizonte distante, em que temos que correr atrás, nos servir como base no presente para um resultado no futuro o qual nem vivenciaremos. Não adiantar se moldar com base numa teoria que não dará certo, que é fraca. Falo dos comunistas cegos que defendem uma posição que não é viável atualmente, por exemplo, se baseiam em conceitos importantes mas se apoiam em modelos antigos que não nos cabe mais. Na maioria das vezes nossas intenções são as melhores possíveis, pautadas na solidariedade e liberdade, mas nossas ações são ineficientes e rasas. Por isso facilmente nos tornamos massa de manobra.

É preciso estarmos cientes do momento histórico em que estamos e conscientes do nosso papel para sermos eficazes em nossas ações. Isto é, pesquisar, estudar, refletir e entender quais variáveis envolvidas nesses processos e de que forma podemos agir com um alto custo-benefício (rs). Saber em quem e no que podemos confiar para progredir, quais valores e princípios podemos transcender. A vida não é dada pronta, é dinâmica, a evolução, universo em expansão, sociedade em desenvolvimento e estamos no meio disso, contextualizados, conectados, muito longe do fim.

Carente de profundidades I

Você observa e aceita as inseguranças do outro, as compreende; e ele te adora por isso. Mas, quando você precisa ser compreendida ou só simplesmente não julgada e criticada, querendo apenas um ombro amigo, o outro não compreende suas inseguranças e te abandona.
Não tem me faltado carinhos, mas não sou de afetos frequentes nem excessivos, sei que o meu amor mora justamente na tentativa incessante de compreender o outro e aceitá-lo. E nisso, tenho dado muito e recebido muito pouco.
Acho que é todo um exercício que as pessoas no geral tem preguiça de fazer, porque é necessário se despir de suas convicções e preconceitos para se chegar mais perto do outro e ainda assim ter em mente que você não sabe nem sente o mesmo que ele e por isso nunca entenderá perfeitamente o seu contexto.
Entretanto, só a tentativa já é tão reconfortante: troca-se ofensas e desprezos por diálogos e críticas construtivas, banimos o ódio e a violência, deixando espaço para a tranquilidade e humildade; e até discordando, estamos concordando em discordar. Dispostos a manter a calmaria e a fortalecer nossos laços.
E mesmo que eu tenha dado muito e recebido muito pouco, eu me sinto abraçada por mim mesma, por estar me abrindo às dúvidas, a novos questionamentos e posições, e me limpando de preconceitos e certezas frívolas. É tão bom me espelhar no universo e estar em constante expansão... só queria que mais pessoas se sentissem assim.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Zona Hermética (trecho) - Manoel de Barros

" Fez-se um silêncio branco... E aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema."


segunda-feira, 31 de julho de 2017

46/365 - Jó Rodrigues

"O suicídio não deve ser ligado necessariamente a um "fracasso": continuar vivo pode comportar o maior envilecimento, a negação de todo heroísmo, e o fato de um homem suicidar-se não prova, em absoluto, que "seu projeto de vida era errado" etc. Uma morte pode ser uma consumação, um profundo triunfo, uma plenitude, uma iluminação, um estalo interior, uma irreprimível alegria."

sábado, 29 de julho de 2017

O poeta pede a seu amor que lhe escreva - Federico García Lorca

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

---
El poeta pide a su amor que le escriba

Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal. La piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena pues de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.

– Federico García Lorca, em “Poemas esparsos”

A Revolução dos Bichos, George Orwell

"As palavras do Major haviam dado uma perspectiva de vida inteiramente nova aos animais de maior inteligência da granja. Não sabiam quando teria lugar a Revolução prevista pelo Major, nem tinham razões para acreditar que fosse durante a existência deles próprios, mas percebiam claramente o  dever de prepararem-se para ela."





“Não tive escolha, não há como viver nessa época, nesse país e não se envolver.” – Nina Simone



"Como você pode ser um artista e não refletir os tempos?" - Entrevista


quinta-feira, 13 de julho de 2017

O SOLITÁRIO [Manoel de Barros]

Os muros enflorados caminhavam ao lado de um homem solitário
Que olhava fixo para certa música estranha
Que um menino extraía do coração de um sapo.

Naquela manhã dominical eu tinha vontade de sofrer
Mas sob as árvores as crianças eram tão comunicativas
Que me faziam esquecer de tudo
Olhando os barcos sobre as ondas...

No entanto o homem passava ladeado de muros!
E eu não pude descobrir em seu olhar de morto
O mais pequeno sinal de que estivesse esperando alguma dádiva!

Seu corpo fazia uma curva diante das flores.

sem salvação ou surpresa, the end.

Por que as pessoas,
no geral,
custam tanto a entender
algo
que pra mim é quase
auto-explicativo?

De destinações religiosas
à concepções psicológicas
teorias, lamentações, fofocas...

Fala-se muito em suicídio
mas não se fala do que
considero eu
mais importante: compreensão.

Há uma coisa que não entendo:
como querer permanecer leigo
se tudo o que livremente tenho
é a minha compreensão da realidade,
meu conhecimento?

Apreensão dos causos e coisas,
planos e pessoas,
sistemas e sinestesias
conexões e coletividades....

Para quem vive de superficialidades
pessoas rasas de pensamento
e sentimento
não compreendem,
mesmo que tentem,
questões com profundidades.

Há quem não acredite
no paraíso
mas o fogo do inferno
não deixa de queimar...

Há quem não precise
de auxílio
e ainda assim
sente o mal inflamar....

A morte é venerada
A vida, superestimada.

Mas não é sobre esse ciclo
sem fim
o desfecho é acabar com a dor
e enfim...
aqui jaz, em paz.

"Iniciativas Particulares" Ilustre Z

terça-feira, 11 de julho de 2017

escombros #1

tenho que tomar cuidado
com a rua, o perigo,
assaltantes e coisa pior;

mas enquanto caminho,
namoro a lua, não penso nisso
e sigo só.

vou contra o que recomendou
minha mãe, alertou minha amiga
e teme minha vó.

a cidade atola em lama, sangue,
sérios traumas, vários dramas
e desamor.

congestionada e poluída,
empoeirada e fedida,
a indiferença é o pior.

tanto esforço é só um esboço
da escravidão sistêmica,
alienação epidêmica ao meu redor.

a solidão do mundo sólida em mim,
angústia sem nome nem fim,
minha cabeça dá um nó.

mas no entusiasmo do meu choro,
e assim como as estrelas,
é do caos que nasce o meu melhor.

minha bravura eu não grito,
meu riso é esconderijo,
sinto que faço parte de algo maior.

e se não for nada disso,
se a superestrutura pequena for,
ninguém a recorrer, nada posso fazer...
é de dar dó.

mudo e transmudo em silêncio
amadurecimento é merecimento,
mas consciência importa a quem
se tudo vira pó?





segunda-feira, 10 de julho de 2017

Saturação

eu penso
nas atrocidades
que o sistema  nos impõe
e nas fatalidades
que a sociedade legitima
e fico triste.

eu percebo
que não há razões
para se estar viva
e menos razões ainda
para se querer a morte
e fico triste.

eu sinto
uma coisa ardendo
dentro de mim
e não acho ninguém
assim que me caiba
algo assim que me sirva
e fico triste.

e por mais que eu queira
que me importe
que tente, me esforce
isso tudo fica preso
entalado, sufocado
sem se expressar:

não consigo mais chorar.

sábado, 8 de julho de 2017

Variáveis

constantemente
entre a vontade súbita
de te falar o que sinto e
o desejo oculto
de me camuflar ainda mais
para admirá-lo de longe.

sinto que posso te esperar
a vida inteira
como esperei até aqui
alguém assim
feito você.

mas não sei se há veracidade
não sei se você é assim
como imaginei.
o tempo passa,
ao não haver reciprocidade,
vejo que me enganei.

a linha tênue
entre a ineficácia
em tirar conclusões
com dados insuficientes
e perceber que muitas vezes
a imaginação é a mãe da verdade.

o aroma doce da ilusão
guia meu caminho
para ir de encontro ao teu
o gosto amargo da verdade
me prova que segui-lo
foi engano meu 


nós por nós

se não há vagas suficientes e bem longe disso, há todo um estresse de milhões de brasileiros que se inscrevem, estudam e se boicotam para conseguir a porra de uma vaga, a universidade não foi feita pro povo. 

se os muitos com uma posição social e financeira privilegiada passam nos melhores cursos facilmente, em contrapartida aos poucos esforçados que conseguem passar pelas cotas sociais/raciais e sofrem com o preconceito e a falta de políticas de permanência, a universidade não foi feita pro povo.

se, buscando na história, sabemos que a maioria dessas instituições foram fundadas para propagar valores político-ideológicos de uma elite que lucra em desigualdade, a universidade não foi feita pro povo. 

se na sociedade há tanta necessidade de bons profissionais e serviços de qualidade complementando a multidão de diplomados desempregados, a universidade não foi feita pro povo.

se no mesmo bairro, duas realidades completamente diferentes se contrastam: uma das melhores universidades do país rodeada por uma periferia que agoniza em pobreza e ignorância, a universidade não foi feita pro povo. 

se diante do caos político e social, os reitores sequer dialogam satisfatoriamente com seus docentes e discentes, muito menos se posicionam favoravelmente às lutas dessas classes, a universidade não foi feita pro povo.


se nós, conscientes da realidade que nos cerca, sem o apoio das autoridades responsáveis e cientes de que fracasso é o resultado mais provável, não estivermos decididos por nós mesmos a usar nosso conhecimento para agregar algo positivo na comunidade, usando nossos próprios recursos, tempo e disposição, a universidade nunca será para feita pro povo.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Amizade é o amor mais importante do mundo.

Mesmo que não nos vejamos sempre e é bem possível que não nos vejamos mais, gosto de pensar em você como alguém com quem eu posso contar, alguém que sempre estará disposto a me ouvir e a me aconselhar quando eu precisar e gosto de pensar também que você sabe que a recíproca é verdadeira.

Mesmo que as nossas lembranças sejam as mesmas e que não tenhamos tempo nem espaço para criar novas lembranças e por mais que fiquem apagadas e distantes com o passar dos anos, elas ainda me dão um aconchego e me aquecem como se tivéssemos nos encontrado ontem.

Mesmo que muitas paixões me tirem o sono, ocupem grande parte dos meus pensamentos e que eu continue fazendo o contrário do que tanto você me alertou, seu cantinho no meu coração permanece inabalável, sólido e eterno.

Mesmo que a sociedade nos pressione a ser quem não queremos ser e nos obrigue a tomar decisões entre escolhas ruins e piores, não me deixarei abalar, me recordarei e comemorarei com tabaco e melancolia, álcool e euforia, o seu ditado: "somos jovens, somos imortais!"

Mesmo que muitas pessoas vão embora de maneiras tão diversificadas quanto doloridas, e me façam querer tornar suas presenças descartáveis na minha vida, a sua presença nunca será tida como descartável, porque você está longe, igual a elas, mas não partiu em mim, de mim, daqui, diferente delas.

E mesmo que não haja palavras suficientes pra demonstrar meu afeto e o quanto sou agradecida por ter você em algum momento da minha existência, aqui estou te escrevendo para amenizar um pouco essa saudade e exaltar nossa amizade.