sábado, 2 de setembro de 2017

Nenhuma lágrima - Bruno Alcantara

Danem-se as cartas de amor.
As esperas no elevador.
Andar de mãos dadas na Avenida Paulista,
ou não andar.
Andares, andares e prédios desperdiçados
por não tentar.

Tanto faz os planos, os anos, o beijo
sempre ausente que já não mereço.
As trocas de olhares oportunas e
a tensão que pensei haver entre nós.

Nenhuma lágrima, minha flor.
E eu que esperava sofrer tanto,
querer tanto te ouvir em breve.
E o sofrimento virou sono, um sono inerte.
E as palavras que guardei, perdi em algum
lugar em mim que já não tenho.

No máximo um bocejo, eu te dedico.
E o meu gracejo,
– Vulgo e despido amor, maldita flor!
Eu lhe suplico que note
a minha indiferença
e que saiba
das noites em claro que não passei.

Danem-se as palavras de amor
que eu te escrevi
eu me esqueci
de me conter.

Danem-se os caminhos
que eu não construí
pelos quais eu não pude
jamais lhe perder.

Sem nenhuma lágrima.