quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Carlos Bernardo González em 'Bases para sua conduta'

Parte I

As observações que fizer sobre seus semelhantes e sobre as coisas a seu alcance lhe permitirão aperfeiçoar-se em alto grau, corrigindo suas deficiências e exaltando suas qualidades. Assim, por exemplo, todo o belo e bom que vir nos demais lhe servirá para reproduzi-lo em você; e se o que observar neles lhe for, pelo contrário, desagradável – seus procedimentos, sua conduta, etc. –, aproveitá-lo para julgar as impressões que seus semelhantes receberiam de você, se tivesse as mesmas atitudes, a mesma conduta. Tratará, pois, por todos os meios e com grande vontade, de não reproduzir aquilo que a você mesmo tiver causado má impressão.

É conveniente escrever, em ordenadas anotações, as impressões que recolher, assim como as apreciações sobre o que observar diariamente, já que depois elas haverão de servir-lhe para formular valiosas reflexões. O ato de escrever o levará, além disso, a exercitar o manejo correto do idioma; e o habilitará, mais tarde, para concretizá-lo em artigos ou livros, quando sua inteligência houver aprendido a amadurecer os temas centrais que você desejar expor. Fará isto cuidando sempre de que suas expressões reflitam humildade, para que a ninguém pareça chocante o que escrever, mas sim agradável, atraente e ameno.

Quero que surja em você a iniciativa de expressar com clareza seu pensamento; que se aperfeiçoe não só na arte de escrever, mas também na de falar. Cultive-se em todo instante; pense, pense muito, e faça-o com alegria

Preocupe-se em forjar um porvir, mas não pretenda fazê-lo em pouco tempo. Recorde que tampouco conseguirá nada se não começar pondo mãos à obra.

Una ao esforço a inteligência; você trabalhará menos e fará mais.

"...e vinte anos de agonia no coração"

entre erros e acertos, observações e consequentes reflexões: evolução.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte IV

Vou
e não quero que saibam
aonde sou.
Sigo
e não quero que digam
por onde sevo seguir.

Quero ver
não me deem olhos
Quero pegar
não me deem mãos
Quero sentir
não me deem sentimentos
Quero tudo
não me deem nada.

Não
não quero engenheiros nem arquitetos,
nem planos, plantas ou papeladas.
Não quero máquinas de terraplanagem
nem quero pontes sobre os meus rios.
Não quero carros nesta viagem
nem quero barcos no meu mar.
Não quero lâmpadas neste caminho.
Nem quero túneis transpondo os montes.
Não quero companhia, devo ir sozinho
nem quero palavras, quero ir calado.

Vou neste meu caminho
nele existe: tudo e nada.
Vou descalço pisando espinhos,
tropeçando em pedras me agarrando em nada.

Sei que um dia chego
Mas não sei o dia da chegada
Caminho e às vezes cansado penso
em parar e canso mais na parada.

↠↞

Ando...
e pela rua, meu olhar
cruza os olhares
e minha vista se perde
na vista que me oferece
a rua.
Sigo em meu andar lento
e meu olhar já não cruza
os olhares à minha vista.
ah!
A minha vista.
Onde está a minha vista?
A minha vista se perdeu 
na vista que me ofereceu
a rua.

[Hermes Simões - Itabuna]


UM RARO MOMENTO COLORIDO
quem sabe
amanhã de manhã
o pardal vai cantar
no fio elétrico
que passa perto
de minha janela
e eu vou-lhe fazer coro
assoviando minha felicidade?

[Jane Kátia Mendonça - Ilhéus]


POSSE
nada tenho
nada tive
nada terei por certo
ter
é uma posse
de muita responsabilidade

DECISÃO
hoje 
quero tomar
champanhe
com todos meus amigos
e sorver amor
na mesma taça
hoje
eu quero abraçar
todas as mulheres
que ousaram atravessar
o tempo
e diminuir 
o medo da morte
hoje
quero banhar-me
em rosas
enxaguar-me em narcisos
e secar naturalmente
na corola macia dos lírios.

[Maria Antonieta Mota - Salvador/Itabuna]

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Reformas, não reformismo

"Existem dois enfoques que podemos tomar para o feminismo: nós podemos distanciar outras feministas focando-nos na crítica ao feminismo reformista ou podemos apoiar totalmente a luta pelas reformas feministas enquanto permanentemente dizemos “Queremos mais!” Isto é importante especialmente se queremos fazer o anarquismo mais atrativo às mulheres (uma enquete recente do Irish Times mostrou que o feminismo é importante para mais de 50% das mulheres irlandesas).
[...] Os benefícios tanto para as mulheres quanto para homens no anarquismo tem muito a oferecer as mulheres em particular, a liberdade sexual, econômica e pessoal de forma profunda e o anarquismo oferece mais que qualquer igualdade precária que pode ser alcançada sob o capitalismo."

[Deirdre Hogan - Feminismo, classe e anarquismo 
(originalmente publicado em RAG n2, outono de 2007)]
"profundamente dilacerada pelo seu próprio florescimento."
[patti smith em só garotos]

domingo, 28 de janeiro de 2018

Caberia pensar que existem outros estágios além do humano, do ser pensante? Podemos imaginar até onde vai esse movimento progressivo, pressupondo que não somos o ponto mais avançado do Universo? 
[Diego Mellado em "A anarquia como palavra"]
Se o respeito pelo homem estiver estabelecido no coração dos homens, os homens acabarão por estabelecer, em  retribuição, o sistema social, político e econômico que consagrará esse respeito.Uma civilização funda-se, antes de tudo, na substância. Ela é, antes de tudo, no homem,o desejo cego de um certo calor. Em seguida,o homem, de erro em erro, encontra o caminho que conduz ao fogo.
[Antoine de Saint-Exupéry]

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

realizar-me!

E paro o tempo quando quero reiniciar-me.
Tenho de paralisa-lo se quero alcançar meus pensamentos!
Realmente o tempo corre.
De tão veloz não vejo a que direção.
Meus sonhos insistem em acompanha-lo
E cansado estou de correr contra o tempo...
Mas recuso-me também a correr com ele!
Envelhecer-me por esta busca?
Rejuvenescer-me a cada luta!
Já não são mais os dias como os tempos de outrora.
Mas todos os dias há uma nova aurora.
Disse-me a Lua "mudarei a ordem das marés, reviverás de outra forma".
Não espero mais por um tempo preciso.
Mas espero o tempo que for preciso...para realizar-me!

[Francis Paixão]

The Village

Onde a abundância sorri, ah! ela sorri para poucos.
E aqueles que não a experimentaram, ainda assim a contemplam.
Como os escravos que cavam por ouro.
A riqueza ao seu redor os faz pobres duas vezes.

[George Crabbe, 1783]

~~aqueles insights para explorar depois~~

reconhecer em mim mesma e nas pessoas à minha volta nossos traços autoritários e tantos outros traços herdados dessa estrutura social a qual fazemos parte, para então deixá-los de lado e construir novas ideias e ideologias comportamentais. mas, quanto mais parecidos com essa estrutura dominante, mais confortáveis ficamos; quanto mais nos distanciamos, mais desconfortáveis e excluídos nos sentimos. eu não tenho medo, mas tenho preguiça; minha vontade varia entre permanecer sendo o 'mais do mesmo' e a liberdade solitária e enferma, mas eufórica. tomar decisões? a maioria das coisas fiz e faço só por teimosia.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Esta gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

[Sophia de Mello Breyner]

Professor Hermógenes

Jogaram uma pedra na tranquilidade do lago. 
O lago comeu-a. Sorriu ondulações. 
Voltou a ficar tranquilo.

Eu mandei meu amor pro Espaço

São difíceis os dias desse tempo,
precisamos tanto de um invento
que nos ajude a sonhar.

É que a exclusão já é tamanha,
que qualquer dia alguém te apanha
e põe pra fora do sistema solar.

Se uma nave passar por mim,
mandarei flores pra ela 
e um pedido de socorro
noticiando como estou.

A terra gira em torno do medo.
Revelaria os meus segredos
para ter de volta o meu amor.

- Totonho & Os Cabra - 

domingo, 14 de janeiro de 2018

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte III

FOTO-GRAFIA
Perdi minha foto
e a grafia das palavras
Busco a imagem
e as ideias...
Fui caçada
tolhida
camuflada...
Ganhei bagana
esmola
e uma maçã.
Ganhei o som
o grito
e uma mordaça...
ou o negativo da foto
e o invisível da grafia
Sou...

LIBERTAR-SE
Como se fosse
alimentar-se
da réstia de sol
do raio pequenino
da lus colorida...
Como se fosse
saciar-se
do pedaço de céu
do sentimento rasgado
de tocar as estrelas...
Como se fosse
libertar-se
das celas invisíveis
das correntes inquebráveis
desse tempo prisioneiro...
...a gaivota bateu asas
varreu o espaço
do seu grito sufocado
alcançou  horizonte
e o seu último voo...

ANGÚSTIA
Minha angústia vem
do meu tédio cotidiano
do mecanismo de escritório
das mesmas luzes
do centro artificial
do meu chão.
Minha angústia vem
dessa limitação que canta
um canto triste
como o sabiá...
vem do que reclama
e clama
vem do que chora
e floresce no sorriso
de amanhã.
Minha angústia
vem de minha hora
não marcada no tempo...

[Genny Xavier - Caitité/Itabuna]

A CAIXA DE FÓSFORO
Com a caixa de fósforo na mão
parou, sem saber ao certo
se queria compor um sambinha
ou acender um cigarro

Fez um esforço de memória
e não conseguiu saber.
Procurando afastar pensamento incômodo,
deu de ombros e prosseguiu seu caminho.

De repente,
parou novamente, angustiado.
Lembrou-se que trazia um pandeiro,
e não tinha cigarros.

FRATERNIDADE
Na mão,
apenas uma flor.
No coração,
o desejo profundo
de estender milhares de mãos
ofertando flores.

HIERARQUIA
No fim da tarde,
esperando ver acenderem-se as estrelas,
sou grato á penumbra
que retarda o quanto pode
a minha contingente obrigação
de acender as lâmpadas.

[Gil Nunesmaia - Ilhéus]

sábado, 13 de janeiro de 2018

Um Nome a Zelar - Seu Pereira e Coletivo 401

Eu tenho um nome a zelar
Por isso hei de amar
Quem eu quiser

Eu tenho tanto amor
Tanto amor pra dividir

Solidão quase nos matou
No tempo que éramos nós dois
O egoísmo nos deixou
Guardando amor para depois

Pra quê guardar amor?
Se há tanta dor no mundo inteiro
E o meu amor é tanto
Tanto quanto verdadeiro

Eu tenho um nome a zelar
Versos pra distribuir
Mil bocas pra me entregar
Mil jeitos de me sentir
Mil peitos para fazer
O coração bater mais forte

Eu tenho um nome a zelar
E ser lembrado após a morte.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

os bravos são escravos sãos e salvos de sofrer

[Los Hermanos - O vencedor]

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Manuel J. Gomes sobre La Boétie em "O discurso da servidão voluntária"

a alienação  é  demasiado  doce  (como  um refrigerante)
e  a  liberdade  demasiado  amarga,
porque está demasiado próxima da  solidão.
E da loucura.

A todo momento

pessoas aterrorizadas
te bombardeando.

Aterrorizadas.
Ódio descontrolado,
riquezas centralizadas.

Desigualdade
é a raiz de cada
pé de maldade.

Aflita sociedade:
individualistas sedentos
planejando subdesenvolvimento.

A todo momento
tendo que estar atenta.
Serena, mas atenta.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O que é preciso para nos engajarmos?

A desesperança com o nosso modelo representativo é consequência dos inúmeros casos de corrupção e abusos de poder de uma elite burguesa através do Estado (a tal bancada BBB - bala, boi e bíblia). Vivemos em época de total descrença com relação à eficácia dos instrumentos estatais e perpetuamos sérias divergências que nos dividem e enfraquecem. Leis, por exemplo, que legitimam o caráter exploratório e os privilégios conseguidos por essa elite na esfera político-econômica brasileira. Siglas (PT, PSDB, PMDB...) que não definem nem a si mesmas, tentam nos enganar com discursos muito bem escritos que maquiam a realidade vergonhosa e desonesta dos jogos de interesses e poder político.

Mas isso não deve ser encarado como obstáculo, senão como um estímulo para a nossa adesão cada vez maior nos debates e nas decisões políticas. É necessário um despertar coletivo através de estudos e ações focados no desenvolvimento (entende-se por desenvolvimento o crescimento econômico aliado ao bem estar social). Não por acreditar que seja essa nossa obrigação, mas por simples questão de querer, queremos conviver numa sociedade evoluída e pacífica, harmônica para com as capacidades e preferências de cada indivíduo, queremos preservar o entendimento que o individualismo egoísta não sobrevive por si só.

Seres sociais como somos, é preciso conservar a união, o interesse coletivo deve prevalecer ainda que sejam infinitas as particularidades de cada ser. Não conseguimos sobreviver isolados, não podemos continuar vivendo violentados por um sistema que só nos segrega e exclui. Me pergunto: como reunir pautas e fortalecer o poder do povo? Como mudar um sistema de interesses oligárquicos para beneficio da coletividade? Ao contrário de imposições e convicções, o que precisamos é ouvir para sermos ouvidos, trabalhar para crescermos e compreender para nos ajudarmos. Sou porque somos. Então, por onde começamos?

domingo, 7 de janeiro de 2018

poderia ser sobre paixão, mas é sobre admiração e amizade que também é amor

*dedico a Mib*
em Outros jeito de usar a boca de Rupi Kaur


terroristas de nós mesmos I

Uma insegurança que finge
ser segura onde está:
parada, imóvel, sem impulso.
Rotina; o pulso inerte da vida.

Desistência antes mesmo da tentativa,
planejamento que não vinga,
percepção submersa em morfina.
Uma manta de proteção vazia

Um passo a frente do adversário,
prevendo o resultado,
toma-se a melhor atitude:
permanecer-se parado.

Parece ajudar em evitar
que o imprevisível aconteça.
Uma jogada estratégica,
encenação amadora, peça por peça...

Ser firme em não ter opinião
para não ser contrariado.
Construir bases no nada
para não ser criticado.

Não tomar posição
é de bom grado
para espírito bitolado.
Abster-se é ser controlado.

Toda inação é ilusão,
falsa sensação de pertencimento.
O equilíbrio está justamente
no movimento:

Intervir, sugerir e resistir.

O que te move?
O que te leva a luta?
O que te traz à vida?
O que te sugere à morte?

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte II

OS DIASAssim perdemos os sábados.
Deitados ficamos como um relógio imóvel
enquanto o tempo passa.
O tempo, impiedosa
fera, nunca espera
que se dê o último retoque
nas vestes.
Assim perdemos os dias.
Salvar a vida é segurar as horas.
Saltar de pé e acompanhá-las,
desnudo embora.  
CONSTRUÇÃOPalavra sobre palavra
levantarei o poema.
Levarei até às nuvens
asas e silvos deixados
por aves que me habitavam.
Pena sobre pena
pois construí-lo é mais
que contemplar o vário
e deitar-se ao largo.
Porém, seu contrário.
Palavra sobre palavra
lavrarei sua áspera
couraça de silêncio
mesmo que o tempo o destrua
como qualquer pedra. 
CIÊNCIAComo saber se é tarde ou manhã
quando as horas se evolam
nesse búzio imóvel
que nunca responde?
A poeira do mundo
invade a vida e convivemos
num formigueiro
que nos consome.
Como saber o que se esconde
se somos homens?
Apena sabemos
a falta, a fome. 
QUIMERAcheirar hálito
quente da manhã
caminhar sobre
arco-íris, levando
solidão nos bolsos,
sorrisos nos pés
e ressuscitar assim
a velha primavera:
solúvel quimera. 
GRITO DE POESIA quero a poesia
memória do meu tempo
grito de todas as dores
na boca do mundo esfarrapado
em trapos de amor
entre muros. 

[Carlos Roberto Araújo - Ibirapitanga]

sábado, 6 de janeiro de 2018

Largo do Peneireiro [para a Inês]


Tudo se perde, claro. Mas lembrarei
seguramente os olhos vermelhos
de um gato de Alfama e todos os poemas
que não escrevi contra mim próprio,
naquele pátio aberto a ciladas e dissipações.

Vinho tinto, charros, paixões escarnecidas
num diálogo de guitarras desatentas.
Tu fazias vinte e quatro anos, é certo,
e dizias com maior razão que aqueles olhos na noite
pertenciam a uma gata. Perdida, achada luz,

quando se percebe o desabrigo, a difícil
pertença a esta espécie de gente,
comunidade de louco deserdados a que
o empregado, de bigode, chamou
«o pessoal da bebedeira». Porque isto
que não passa, sabemo-lo bem, é a vida

ou a morte, uma perda que dura
e que não se apaga assim, sob um cerco
de navalhas ou de inúteis, vigorosos
sentimentos. Por exemplo o amor,
essa estranha mistura de angústia, desejo
e novamente angústia. O não apenas sexo
de adormecer em braços reais
que afastem para sempre o mundo.

Mas acabo por subir cambaleante as escadas
à hora em que o vizinho de baixo
se prepara para ser uma pessoa altamente
honrada, no talho de bairro
que lhe dá sentido aos dias.

E não é dor, nem prazer, nem
ressentimento o que um corpo
sente, às seis da manhã, prostrado
na lama involuntária destes versos.
Antes um vazio imperfeito, uma
ferida sem lugar que nenhuns lábios,
sequer os teus, saberiam calar.

Fizeste, já disse, vinte e quatro anos.
Não esperes grande coisa da felicidade.

[Manuel de Freitas]

Amor Verdadeiro - Eugénio de Castro

Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Enquanto sinto para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei de possuir-te, sei
Que outro feliz, ditoso como um rei
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esperança,
Amar sem esperança é o verdadeiro amor.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

não tenho ambições, nem desejos.
ser poeta não é uma ambição minha,
é a minha maneira de estar sozinho.

↠↞

como uma criança antes de a ensinarem a ser grande,
fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.

 - Alberto Caeiro 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

- Quero você para sempre esta noite,

eu divido contigo minha angústia e o meu pão.




[Otto - O que dirá o mundo]

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Elif Shafak em "O poder revolucionário da diversidade do pensamento"

trocávamos sorrisos de simpatia; uma camaradagem dos condenados.

estrangeiros na própria pátria.