terça-feira, 25 de setembro de 2018

Maya Angelou

AINDA ASSIM ME ERGO

Você pode me desmoralizar na história
Com suas mentiras amargas, torcidas,
Você pode me pisotear na sujeira extrema
Mas ainda assim, como a poeira, eu me ergo.

Meu atrevimento o incomodou?
Por que você está tomado de melancolia?
Porque eu ando como se eu tivesse poços de petróleo
Bombeando na minha sala de estar.

Assim como luas e como sóis,
Como a certeza das marés,
Assim como as esperanças brotam,
Ainda assim me ergo.

Você quer me ver quebrada?
De olhos e cabeça baixos?
Ombros caídos como lágrimas,
Enfraquecida pelos gritos repletos da minha alma?

A minha arrogância te ofende?
Não leve isso tão a sério.
Porque eu rio como se tivesse minas de ouro
Escavadas em meu quintal.

Você pode atirar em mim com suas palavras,
Você pode me cortar com seus olhos,
Você pode me matar com seu ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu me ergo.

Minha sensualidade incomoda você?
É uma surpresa
Que eu dance como se tivesse diamantes
Por entre minhas coxas?

Fora das cabanas da vergonha da história
Eu me ergo
Acima de um passado enraizado na dor
Eu me ergo
Eu sou um oceano negro, vasto e revolto,
Brotando e expandindo eu alimento a maré.

Deixando para trás noites de terror e medo
Eu me ergo
Em um amanhecer que é assombrosamente claro
Eu me ergo
Trazendo os presentes que meus antepassados ​​ofereceram,
Eu sou o sonho e a esperança do escravo.
Eu me ergo
Eu me ergo
Eu me ergo.

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TOCADA POR UM ANJO

Nós, desacostumados a coragem
Exilados da graça
Vivemos encolhidos em conchas de solidão
Até que o amor deixe o seu alto e sagrado templo
E se revele
Para nos libertar em vida.

O amor nos alcança
E em seu cortejo vem os êxtases
Velhas memórias do prazer
Antigas histórias de dor.
Se formos corajosos, no entanto,
O amor afasta as correntes do medo
De nossas almas.

Desacostumados por nossa timidez,
No clarão das luzes amorosas
Nós ousamos ser corajosos
E de repente vemos
Que o amor sacrifica tudo que somos
E o que seremos.
E, no entanto, é só o amor
Que nos liberta.

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RECUSA

Amado,
Em quais vidas ou terras
Conheci seus lábios
Suas mãos
Seu bravo sorriso
Irreverente.
Todos esses doces exageros
Que eu adoro.
Qual a garantia
Que nos encontraremos de novo,
Em qualquer outro mundo
Em qualquer futuro sem data.
Eu desafio a urgência de meu corpo.
Sem a promessa
De mais um doce encontro
Não me permitirei morrer.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Tormento do ideal

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,
E, assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.

[Antero de Quental]