quinta-feira, 25 de julho de 2019

#toda surdez será castigada

chefes de estado sem culpa,
líderes religiosos alucinados,
corporativistas sem remorso.
e o direito à vida dos civis?
nem nasceu.

Ensinamentos

Ser invisível quando não se quer ser
é ser mágico nato.

Não se ensina, não se pratica, mas se aprende.
no primeiro dia de aula aprende-se
que é uma ciência exata.

O invisível exercita o ser “zero à esquerda”
o invisível não exercita a cidadania
as aulas de emprego, casa e comida
são excluídas do currículo da vida.

Ser invisível quando não se quer ser
é ser um fantasma que não assusta ninguém.

Quando se é invisível sem querer
ninguém conta até dez
ninguém tapa ou fecha os olhos
a brincadeira agora é outra
os outros brincam de não nos ver.

Saiba que nos tornamos invisíveis
sem truques, sem mágicas.
Ser invisível é uma ciência exata.

Mas o invisível é visto no mundo financeiro
é visto para apanhar da polícia
é visto na época das eleições
é visto para acertar as contas com o Leão
para pagar prestações e mais prestações.

É tanto zero à esquerda que o invisível
na levada da vida soma-se
a outros tantos zero à esquerda
para assim construir-se humano.

Esmeralda Ribeiro____

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Sou uma cética que crê em tudo,

 uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida. Uma indiferente a transbordar de ternura...

Florbela Espanca

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Citei um provérbio

 que repetia com frequência no ar -"Se não pode fazer alguém feliz, não lhe dê esperanças"- e disse, com franqueza: "Taohong, obrigada. Fico muito feliz em tê-la conhecido, mas não lhe pertenço e não posso ser sua amante. Creia-me, há alguém à sua espera no mundo. Continue lendo e expandindo os horizontes, você a encontrará; não a deixe esperando.

Xinran
trecho do livro As boas mulheres da China

Cântico IV

Tu tens medo de
acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerá por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

..Cecília Meireles 

Poema Secreto I

Que se distraiam teus pés
em mil passeios.
E tuas mãos despenteiem águas
e tranças de heras.
Mas teus olhos, não
- teus olhos estão
sigilados em meus tesouros.

.Flávia Savary

sábado, 6 de julho de 2019

O desjejum

Gosto quando dizes disparates,
quando fazes asneiras, quando mentes,
quando vais às compras com tua mãe
e chego atrasado ao cinema por tua culpa.
Gosto mais quando é meu aniversário
e me cobres de beijos e bolos,
ou quando estás feliz e dá para notar,
ou quando és genial com uma frase
que resume tudo, ou quando ris
(teu riso é uma ducha no inferno),
ou quando me perdoas um esquecimento.
Mas eu ainda gosto mais, tanto que quase
não posso resistir ao tanto que te gosto,
quando, cheia de vida, despertas
e a primeira coisa que fazes é dizer-me:
“Estou morrendo de fome esta manhã.
Vou começar por ti o desjejum”

Luis Alberto de Cuenca –

Todas as palavras

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo
e se foram levando o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.


Manuel António Pina – 

Por delicadeza/Eu perdi minha vida

quando nos juntávamos
o tema era sempre
o mesmo. mas muitas
vezes discutiam-se
outros, e até ideias como
a imortalidade ou
não da alma: e fumar
tornava-se mais
pertinente. as conclusões
ficavam sempre
com cada um, ou então
deixadas em cima da mesa,
à espera que alguém as limpasse.
eram longos e luminosos
os dias, apesar do preto
que predominava
nas nossas roupas
e em alguns poetas
que líamos, de quem
decorávamos sempre
alguns versos. como
por exemplo estes:
«Par délicatesse
j’ai perdu ma vie».

Manuel A.