segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Desejo de poeta

Meu ser poeta
queria saber escrever essas palavras difíceis
Ter essas sacadas inteligíveis
E fazer poemas incríveis

Inveja quem tem esse dom
De usar a escrita pra sabiamente definir
Inveja quem entra no tom
pra elegantemente seduzir

Atreve-se a escrever um poeminha bobo aqui e ali
Às vezes cria, reinventa
Frequentemente copia e se recria

O meu ser poeta não sabe rimar, coitado
Na escola, aprendeu o teorema de Pitágoras
Mas nada sabe de métricas e metáforas
Desse mundo de grandes poetas foi extraditado

De amor sabe muito, sente muito
É aí que ele se encontra
Não nos adjetivos trabalhosos, nem nos significados duvidosos
Mas no pensar, no aprender, no viver
No sentir e no ser.
Meu ser poeta quer ser poesia.

já vi mendigos demais com os olhos vidrados bebendo vinho barato debaixo da ponte

Você se senta comigo
no sofá
nesta noite
nova mulher.

Você já viu os
documentários
sobre animais carnívoros?

eles mostram a morte.

E agora me pergunto
que animal entre
nós dois
devorará
primeiro o outro
física e
por fim
espiritualmente?

Nós consumimos animais
e então um de nós
consome o outro,
meu amor.

Enquanto isso
prefiro que você vá
primeiro e do primeiro jeito

Se os gráficos de performance passadas
significarem alguma coisa
eu certamente irei
primeiro e do último
jeito.

{ Bukowski } 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sobre interesses

"Não sei que palavra usar pra me definir. Sempre admirei o vilão, o fora da lei, o filho da puta. Não gosto de garotos bem barbeados, com gravatas e bom empregos. Gosto de homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam. Sempre cheios de surpresas e explosões. [...]
Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade. "


- Fragmento de Ao Sul de Lugar Nenhum  Charles Bukowski [Não li, pero no me falta gana]

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tá na capa da revista:






Eu ouço rock mas não me visto de preto, eu namoro mas não estou em um "relacionamento sério" no facebook, eu como sushi mas não tiro fotos da minha comida, eu vou em muitas festas mas não posto fotos de 5 em 5 min na minha timeline, eu sou cidadã mas não fico escrevendo indiretas descartáveis pra partidos nem políticos. E me condenam. Me condenam como sou: porque sou e não pareço ser.

A imagem valendo mais que o conteúdo, nada anormal. Não sei se eu tô crescendo e vivendo as coisas como realmente são ou se as pessoas ficaram supérfluas com o passar dos anos. O fato é que "ser" já não tinha tanta importância como "ter" e hoje em dia nada disso vale perto do "parecer".

É a tendência do fingimento. Finjo-me de revolucionário só pra aparecer na tv, faço-me de apaixonado mas é só pra mostrar pros outros que tenho namorado. Tiro várias fotos em baladas e com muitos "amigos", lugares sem graça com pessoas vazias, mas o que tá valendo são os "likes" que vão dar. 
É, virou tendência, moda primavera-verão-outono-inverno, e até um valor moral, uma tradição fingir que sabe muito de alguma coisa, fingir que faz aquilo lá, fingir ser o que não é. Fingir.

Observo que muitas pessoas nem sabem que são "vítimas" do pop. Virou costume buscar uma imagem, essa imagem que dá a sensação de ser popular, uma pessoa admirável... uma falsa sensação. Porque não se admira o que não existe. (piadinhas ateias pra depois, entendedores entenderão)

Talvez fosse preciso abrir os olhos de alguns adeptos a essa "moda", criticá-los, ser irônico mas o argumento muito esclarecedor e super válido dessas pessoas seria: "isso tudo é recalque da zinimiga que não recebe like e não manja das potarias".

Talvez isso aqui seja um apelo de uma pessoa que quer muito ter esperança na humanidade mas só se decepciona. Porque é frustante ser curioso num mundo que se vive de aparências. - Nunca saberei o que é real e o que é falso. Frustante, eu sei. - Frustante mergulhar fundo na vida, nas pessoas e perceber que são todas rasas.

Bem vindo a sociedade das aparências, fique à vontade mas cuidado: o pop não poupa ninguém.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Achados não mais perdidos

Certa vez o destino,
esse acaso cheio de intenções,
brincava de esconde-esconde,
contou até dez e nos encontrou.
Quietinhos, cada um
em seu esconderijo
ele fez questão de nos unir.

Dissimulada, continuei
a me esconder do amor,
por receio ou pavor.
E de você,  por diversão
ou por simples distração.

Mas havia uma ligação,
essa vontade gêmea de ficar
e não ir embora, uma calmaria.
Esse bem que nos fizemos em par,
todas as afinidades, tanta cumplicidade,
a isso chamamos sintonia.

O tempo passou
Eu te descobri, você me descobriu
e de coração aberto, agora desperto,
fizemos a mesma descoberta:
juntos, dávamos certo;
separados, a saudade era certa.

O que eu quero te dizer, meu bem,
é que o mais importante já aconteceu.
Libertos de construções românticas torpes,
não é um jogo, ninguém sai perdendo nem vencedor,
Nós, no nosso canto, nos encantamos
e cantamos o amor.

Não me cobre mais falas,
nem implore por mais palavras.
Não me escondo de você,
eu me escondo em você:
Hoje, meu melhor esconderijo
é em seus braços.

Longe da Babilônia lá fora,
aqui no nosso universo,
minha prioridade é você
e o entrelaçar das nossas pernas,
orbitadas por desejo e afeto.