quarta-feira, 27 de setembro de 2017

93/365 - Jó Rodrigues

"Saber que se eu atravessar este minuto sempre poderei me matar no próximo torna possível atravessar este minuto sem ser totalmente destruído por ele. O suicídio pode ser um sintoma da depressão; é também um fator que a suaviza. A ideia do suicídio possibilita atravessar a depressão."

domingo, 24 de setembro de 2017

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Enxugando gelo - BNegão

[trecho]
Minha mente é como um quilombo moderno:
lugares para todos os pensamentos refugiados
pela insensatez reinante no planeta terra.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Carente de profundidades II

Eu sei que não sou a única a sentir isso, mas pareço ser a única a me sentir assim, porque as pessoas vestem suas máscaras e é muito difícil enxergar como elas realmente se sentem. Eu já tenho minhas inseguranças que me frustram e me limitam e não me sinto a vontade em me submeter às inseguranças dos outros; digo, se eles admitissem, eu entenderia, se eles desabafassem, eu ouviria e, antes de qualquer coisa, os respeitaria. Mas eles se camuflam e interpretam personagens de modo que eu fico sem paciência pra tentar decifrar a verdade por trás das cortinas. É tudo muito confuso. Tão confuso passar os dias como se nada estivesse acontecendo mesmo tudo acontecendo, porque ninguém te ouviria ou entenderia, sendo que todos também precisam de ouvidos e compreensão. Fala-se tanto da superioridade intelectual dos seres humanos, comparados aos animais, exaltando nossas capacidades cognitivas, mas enquanto nossas qualidades são superestimadas, nossos defeitos, sob fingimento dos ignorantes e hipócritas sequer existem. Mas existem. Milhares de mentes depressivas, corrompidas e suicidas não é mero acaso.

autogestão

devemos parar de esperar que façam por nós
e fazer nós mesmos.
isso é sobre escolhas individuais
mas também é sobre ações coletivas.

Amei Demais, Joaquim Pessoa


Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei

à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.


domingo, 10 de setembro de 2017

“Ah, perante esta única realidade, que é o mistério” – Álvaro de Campos

(trecho)

“Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas ideias que tremo, com a minha consciência de mim,
Com a substância essencial do meu ser abstracto
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!

Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
Ah, não, nenhuma — nem morte, nem vida, nem Deus!”

sábado, 9 de setembro de 2017

1912

Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.

Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.

Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.

Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.

Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.

[Anna Akhmátova]






















Adeus - Judith Teixeira

Sim, vou partir.
E não levo saudade
De ninguém
Nem em ti penso agora!
Julgavas que a tristeza desta hora
Fosse maior que a firme vontade
Que eu pus em destruir
O luminoso fio de ternura
Que me prendia ao teu olhar?
Julgaste mal:
Eu sei amar,
Mas meu amor
O que eu não sei
É ser banal!

Mas por que vim eu escrever-te ainda?
Nem eu sei!
Talvez somente
O hábito cortês da despedida
- e o hábito faz lei!

Choro?! Oh, sim , perdidamente!
Mas sabes tu, por que este pranto
Assim amargo e soluçado vem?
É que na hora da partida
Eu nunca pude sem chorar
Dizer adeus a ninguém!


terça-feira, 5 de setembro de 2017

Bolero Filosófico - Dj Dolores

A noite miro a cidade lépida
Glorificada em edifícios sólidos
E me confronto com a crença humana
Alimentada por desejos sórdidos

Resta portanto a ilusão romântica
Vestindo o corpo de mulheres languidas
E a redenção pela metamorfose
Do iconoclasta para o tipo nobre

Quem sabe um dia eu me acabo em tédio
Mesmo vivendo neste alegre trópico
No carnaval só restará o álcool
Para afogar tal pensamento mórbido...




domingo, 3 de setembro de 2017

Agalopado - Alceu Valença

(...)

"E faço a lua brilhar no meio-dia,
Tempestade eu transformo em calmaria
E dou um beijo no fio da navalha
Pra dançar e cair nas suas malhas.
Gargalhando e sorrindo de agonia,
Se acaso eu chorar não se espante,
O meu riso e o meu choro não têm planos
Eu canto a dor, o amor, o desengano
E a tristeza infinita dos amantes.
Don Quixote liberto de Cervantes
Descobri que os moinhos são reais.
Entre feras, corujas e chacais
Viro pedra no meio do caminho
Viro rosa, vereda de espinhos 
Incendeio esses tempos glaciais..."

sábado, 2 de setembro de 2017

Descolonização I

Exploração de temperos,
Desmatamento de culturas.
Trocar a terra por espelhos é exagero;
A história verdadeira é obscura:
Procura, tortura, sepultura.

Extração da população,
Evacuação dos minérios.
Vindos de outro hemisfério
Sem concessão, destinaram-nos a condenação:
Colonização, mutilação, destruição.

Imperialismo, o verdadeiro terrorismo.
Por todo o planeta, várias facetas
Sangrando a terra, inundada por guerras,
Povos conquistados beirando o abismo:
Eugenismo, cristianismo, genocídio.


Apreensões #1

Eu poderia escrever os versos mais bonitos esta tarde. Escrever como o meu mundo fica mais iluminado sendo você a fonte de luz. Como eu imagino nós dois nos aventurando numa rotina entediante qualquer. Só nós dois. Como eu esperei alguém assim como você, sem nem mesmo te conhecer. Eu te dedicaria todas as músicas de barzinho clichês do Djavan, e teria descrito como você se parece com um jardim cheio de flores coloridas num dia ensolarado; eu adoro flores, cores e dias ensolarados. Nos casaríamos, teríamos filhos e viveríamos como se tivéssemos cumprido nosso papel no mundo.

Seriam os versos mais tristes também. Há algo de errado nessa forma como aprendemos a nos relacionar. Esse amor romântico mais tem a ver com sacrifícios do que com realizações. Não há liberdade, só grades e desgastes buscando remediar uma solidão que não tem solução. Não há nada que possa a substituir, ela precisa ser sentida, compreendida e acolhida. E nessa busca de plena satisfação, de sexo, amor e ego, nos tornamos cegos. Tantas ilusões e frustrações tive que superar para notar que o que fazemos e esperamos está errado. Se nem nós mesmos somos capazes de nos bastar, como deixar essa responsabilidade pro outro que está igualmente perdido e desiludido? É um fardo muito grande a se levar.

Percebi que esses padrões sociais e essas imposições tradicionais apenas nos limitam em nossas relações, nossa criatividade, nosso intelecto. Nos tornamos medíocres quando cada ser é um infinito ímpar, tendo também infinitas possibilidades únicas de se relacionar. Cada vínculo deve ser construído com base no diálogo das preferências e no respeito às individualidades. Consentidas privações afim de libertações conjuntas. Tentativas e erros, algumas dores e sofrimentos são válidos se o objetivo for a liberdade de expressão e sentimento, ou algum melhor entendimento sobre as nossas capacidades de amar a quem quer que seja do modo que for. O exercício é compreender a si e ao outro para melhor adaptar o seu afeto e sentir menos dor, receio e medo. O que aprendemos é inadequado, nada razoável, até intragável; o que apreendo é muito mais legitimo e verdadeiro do que regras e apegos que só servem pra enaltecer o ego através dos sentimentos. É preciso subverter a nós mesmos.

fb.com/poetainverso - Jão Paulo Costa Souza

# Amendoeira
a amendoeira marota
balança, balança
em passos verdes
no salão do vento
que bela dança
envolta pela brisa
que cheira à maresia
brisa úmida,
morna, macia
amendoeira verdejante
dê-me sua sombra
ao meio dia
dê-me seu tronco
onde quero me encostar
e assoviar aquela música
enquanto admiro o mar

# Hiato
Por não ter
Sou grato
Mas, espero
Que na gratidão
Dos meus atos
O meu desejo
Seja de fato
Considerado
E que desvie a minha vontade de viver outra vida, 
fazer o que eu realmente amo, 
o que eu realmente quero fazer, 
desde que entrei nesse hiato
Preciso sentir o cheiro
Que exala dentro do mato
Aroma suave que vive,
Acaricia o meu olfato
E me faz sentir livre

#26
vira flor todo dia
se veste bonita
e vira flor
sapato amarelo e branco
de margarida
frascos de tinta
e se enfeita
se perfuma toda
se pinta
desenha na pele
insiste, se fere
e acredita
queria que ela soubesse
que enquanto tenta virar flor
por fora, assim
o que eu vejo nela
por dentro
é um belíssimo jardim

#4
refletida no espelho
Daqui te vejo
tão forte
O meu desejo
não quero
Só um beijo
na mente
Te despejo
não quero
Ser seu dono
me inspira
O abandono
e me deixa
Sem sono
se lhe tenho
Lhe como
mas, não tenho
Então, sonho.

#1
A madrugada é fria
Frios são meus sentimentos
A noite é calma
Calma como meus pensamentos
Pros vivos, a alvorada
Pros desesperados, a madrugada
Não quero mais
Nem por um momento
Expor os desajustes
Que tenho por dentro
Minhas palavras são como vísceras
Se expostas, são nauseantes
Pedaços repugnantes
De uma mente inconstante
Sobre pernas errantes
Prefiro que apodreçam
Aqui por dentro
E, como carcaças sobre a terra,
Desapareçam com o tempo


Nenhuma lágrima - Bruno Alcantara

Danem-se as cartas de amor.
As esperas no elevador.
Andar de mãos dadas na Avenida Paulista,
ou não andar.
Andares, andares e prédios desperdiçados
por não tentar.

Tanto faz os planos, os anos, o beijo
sempre ausente que já não mereço.
As trocas de olhares oportunas e
a tensão que pensei haver entre nós.

Nenhuma lágrima, minha flor.
E eu que esperava sofrer tanto,
querer tanto te ouvir em breve.
E o sofrimento virou sono, um sono inerte.
E as palavras que guardei, perdi em algum
lugar em mim que já não tenho.

No máximo um bocejo, eu te dedico.
E o meu gracejo,
– Vulgo e despido amor, maldita flor!
Eu lhe suplico que note
a minha indiferença
e que saiba
das noites em claro que não passei.

Danem-se as palavras de amor
que eu te escrevi
eu me esqueci
de me conter.

Danem-se os caminhos
que eu não construí
pelos quais eu não pude
jamais lhe perder.

Sem nenhuma lágrima.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Fiódor Dostoiévski, ' O Sonho de um Homem Ridículo'

"...por um motivo qualquer fiquei um pouco mais tranqüilo. Por um motivo qualquer, justamente, porque até hoje não sei bem por que motivo. Talvez porque na minha alma viesse crescendo uma melancolia terrível por causa de uma circunstância que já estava infinitamente acima de todo o meu ser: mais precisamente - ocorrera-me a convicção de que no mundo, em qualquer canto, tudo tanto faz."