sábado, 2 de setembro de 2017

Apreensões #1

Eu poderia escrever os versos mais bonitos esta tarde. Escrever como o meu mundo fica mais iluminado sendo você a fonte de luz. Como eu imagino nós dois nos aventurando numa rotina entediante qualquer. Só nós dois. Como eu esperei alguém assim como você, sem nem mesmo te conhecer. Eu te dedicaria todas as músicas de barzinho clichês do Djavan, e teria descrito como você se parece com um jardim cheio de flores coloridas num dia ensolarado; eu adoro flores, cores e dias ensolarados. Nos casaríamos, teríamos filhos e viveríamos como se tivéssemos cumprido nosso papel no mundo.

Seriam os versos mais tristes também. Há algo de errado nessa forma como aprendemos a nos relacionar. Esse amor romântico mais tem a ver com sacrifícios do que com realizações. Não há liberdade, só grades e desgastes buscando remediar uma solidão que não tem solução. Não há nada que possa a substituir, ela precisa ser sentida, compreendida e acolhida. E nessa busca de plena satisfação, de sexo, amor e ego, nos tornamos cegos. Tantas ilusões e frustrações tive que superar para notar que o que fazemos e esperamos está errado. Se nem nós mesmos somos capazes de nos bastar, como deixar essa responsabilidade pro outro que está igualmente perdido e desiludido? É um fardo muito grande a se levar.

Percebi que esses padrões sociais e essas imposições tradicionais apenas nos limitam em nossas relações, nossa criatividade, nosso intelecto. Nos tornamos medíocres quando cada ser é um infinito ímpar, tendo também infinitas possibilidades únicas de se relacionar. Cada vínculo deve ser construído com base no diálogo das preferências e no respeito às individualidades. Consentidas privações afim de libertações conjuntas. Tentativas e erros, algumas dores e sofrimentos são válidos se o objetivo for a liberdade de expressão e sentimento, ou algum melhor entendimento sobre as nossas capacidades de amar a quem quer que seja do modo que for. O exercício é compreender a si e ao outro para melhor adaptar o seu afeto e sentir menos dor, receio e medo. O que aprendemos é inadequado, nada razoável, até intragável; o que apreendo é muito mais legitimo e verdadeiro do que regras e apegos que só servem pra enaltecer o ego através dos sentimentos. É preciso subverter a nós mesmos.