segunda-feira, 28 de agosto de 2017

– Carolina Maria de Jesus

“Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.”

#

“Depois de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguém pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!
Quando eu morrer…
Não quero renascer
é horrível, suportar a humanidade
Que tem aparência nobre
Que encobre
As péssimas qualidades

Notei que o ente humano
É perverso, é tirano
Egoístas interesseiros
Mas trata, com cortesia
Mas tudo é hipocrisia
São rudes, e trapaceiros”

#

“Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quis fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.”

sábado, 26 de agosto de 2017

Crise

Esse ritmo quase inexistente
de evolução das ideias, relações,
sociedade, tecnologia.

Não é brasileira, é mundial.
Não é recente, é persistente.

Convite

A sociedade que tem
sede de evoluir
deve os alicerces
arcaicos ruir.

A necessidade
nos obriga
a complicar o caso.
Não há espaço
para vitórias por acaso.

O inimigo é real e a luta,
ainda que diversificada,
deve ser unificada.

Não mais discurso demente
e postura alienada
fortalecendo quem nos despreza.

É hora da festa!

Paraíso

Lugar destinado às pessoas
que, ao sentirem medo da morte
e a dor do vazio existencial,
se paralisam na ignorância
diante do infinito.

Porque não é satisfatória
a vida por si só, na sua forma
simplória, na Terra.

Para guiar nossa burrice,
para acalmar nossa solidão,
é preferível inventar um sentido,
uma direção, um lugar pós-vida.

Já no meu delírio pós-morte,
só o que me resta é ser energia.
Bravura para voltar ao nada
sendo tudo, eu e o Cosmos em sintonia.

fragmentos #3

Problemas inventados, legimitados
Ocupam muito espaço
Da nossa vida,
A rotina que impossibilita
O despertar pra uma nova sina
.
Muitas contas a serem pagas,
Ideologias extraviadas,
Só temos escolhas já determinadas.
Não é liberdade tanta futilidade.
Se sacrificar por
Uma mínima dignidade
Não é pouca bobagem.

O sofrimento gera o apego
desnecessário a coisas desnecessárias.
Partidos, mártires, falácias,
Seitas, regras e tradição.
Rebanho de fácil manipulação.

A ignorância tapa a visão
De que não é preciso um herói
Para acabar com o vilão,
Não é preciso um general
Pra definir sua missão,
Não é preciso um deus
Para suavizar sua aflição.

Indo a fundo na história
Percebo que o que somos
É a consequência do que fomos,
E o quanto essa realidade é ilusória,
De mentalidade compulsória.

O destino não é algo predeterminado,
Imutável.
É o resultado do desencadear dos fatos,
Um fardo.
E pode ser facilmente controlado.

Governe-se!
Ou serás governado.
"Antene-se"!
Ou serás alienado.

Maconha pro câncer,
LSD pra depressão.
O caminho pra destruição
É a desinformação.
Monopólio, propriedade, ambição.
A solução não é mera educação:

Inteligência não-distorcida,
Postura combativa,
Viva sociedade alternativa!

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Lei do cão

Uma sociedade nada gentil
Mais preocupada em punir
Sem refletir nos porquês
O filho deste solo quis fugir
Da sentença de sofrer

Bandido bom é coisa de perspectiva
O menor sem educação
Aprende na escola da vida
Que vale de tudo para conseguir o pão
Ainda que seja uma missão suicida

O playboy com tudo em mãos
Não sabe se satisfazer
Se alia em banquetes com outros ladrões
Rei, rainha, bispo e até oposição
Deixando os peões sem ter o que comer

A justiça de olho na comissão
Deixa livre o playboy corrupto que nega
E finge ser cega
Quando o menor escorrega
E precisa de compreensão

Pro playboy, absolvição;
Pro menor, camburão.

na luta contra a procrastinação...

Sim, é difícil romper a tendência de culpar terceiros e assumir os remos da própria existência, mas esse é o exato porto de onde parte a maturidade em direção ao cumprimento da missão de vida.
Existe cura para o desânimo e a procrastinação; ela é simples, acessível e pública, muito embora não seja simplória, fácil ou popular.
Primeiramente, tens que decidir com exatidão o que desejas, estabelecendo objetivos para cada aspecto de tua realidade. Isto feito, e é um desafio, já tens metade do caminho andado.

O passo seguinte consiste em aplicar-se com determinação no compromisso diário de ir além, fazer mais um pouco, progredir e melhorar-se:

1. Levante-se no primeiro minuto que acordar, evite a postergação.

2. Tenha um check list do que fazer no hoje. Sempre.

3. Diariamente observe a fotografia e textos de exemplos altamente eficientes no campo que escolheu para ti também.

4. Modere-se em falatórios, distrações e atividades distantes de tuas metas.

5. Refine teus hábitos alimentares e faça alguma atividade física. Diariamente.

6. Cerque-se de pessoas, leituras, perfis, histórias e imagens auspiciosas.

7. Agradeça, visualize, afirme, evoque e invoque com máxima sinceridade e força a inteligência, beneplácito e sincronicidade Cósmica.

por Caciano Camilo Compostela, Monge Rosacruz

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Charles Baudelaire - Embebedai-vos (XXXIII)



É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a única questão. Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-vos para a terra, é preciso embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos
E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de embebedar-vos! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos, embebedaivos sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa.”

sábado, 19 de agosto de 2017

Mestre Jonas [Sá, Rodrix & Guarabyra]

Dentro da baleia a vida é tão mais fácil,
nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas.
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora,
a baleia é mais segura que um grande navio.

E ele diz que se chama Jonas e ele diz que é um santo homem,
e ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria.
E ele diz que está comprometido e ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia até o fim da vida,
até o fim da vida, até subir pro céu.


link da música

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Afinador de silêncios - Mia Couto

“Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.”

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

deleite #1

Toques macios e obscenos,
Dedos gentis e depravados.
Eu me molho.
Enquanto você
E esse olhar safado
E essa língua indecente
Desfrutam incessantemente
Dos meus lábios
Deliciosamente.
Prazer a cada movimento seu.
Prazer em cada gemido meu.
Consciência perdida em carícias,
A espinha se contorce
E a pele arrepia.

escombros #2

Terminou.
Como se não tivesse chegado ao fim.
Como se ficasse algo por dizer.
Como se o melhor estivesse guardado pr'um final
Que não veio.
O que veio foi rápido demais,
Magoado e sem jeito.
Sem maiores explicações,
Só deixou de ser.
Dentro do meu peito
Sensação de que ficou pela metade,
Uma inquietação,
Saudade.
Do paraíso ao abismo
do bem querer.

Mulheres do fim do mundo

A questão da descriminalização do aborto no Brasil é racista, classista e machista. Nós já sabemos: mulheres ricas, em sua maioria brancas, se desejam o aborto, tem condições de viajar para um país onde é legal abortar e fazer o procedimento sem perigo algum. O cenário é totalmente inverso se são mulheres pobres, em sua maioria pretas, que além de conviver com a violência social tem que enfrentar a violência de gênero. Se querem abortar, não tem a quem recorrer, se sujeitam a procedimentos nocivos à saúde e correm o risco de serem presas, se sobreviverem. Isso porque a bancada apocalíptica da política que rege o país, formada em sua maioria por homens, em sua maioria brancos, decidiu que era proibido, numa disparidade absurda com a realidade das mulheres negras.

Os argumentos pró-vida não convencem pois não condizem com os fatos. Como falar de pró-vida para uma mulher de periferia que vê os filhos teus morrendo de fome? Pró-vida onde a violência reina e mata todos os dias? Pró-vida existe nas mãos da polícia? Você quer que essas mulheres parem de abortar? Então melhoremos as condições de vida da população pobre, criemos políticas públicas que deem a certeza para a mãe preta de que seu filho preto não irá morrer de fome nem ser assassinado porque o "confundiram" com um bandido, por ter a cor que o racismo adora violentar.

Sem precisar falar que proibir nunca impediu ninguém a nada. E que, enquanto a gestão política for governada por burgueses e religiosos, nós mulheres, nós pobres, nós pretas, nunca teremos direitos plenos de liberdade e sobrevivência. Permanecer marginalizadas é lucrativo para esses governantes. Esperar e até mesmo reivindicar os direitos básicos para esses senhores soa como uma piada de mal gosto. Busquemos outras alternativas, então. Para melhorar temos que estar esclarecidas de nossa situação e de nossa comunhão. Como ajudar umas às outras? Como cuidar de nossas mulheres e nossos homens? Como proteger nossas vidas e famílias?

fragmentos #2

O que esperar de um sociedade machista?
Às mulheres, negligência.
E o que esperar das mulheres?
Desobediência!

fragmentos #1

Por que muitos se perdem no caminho ?
Não há frutos de seus pensamentos;
suas obras terminam antes de começar a ação
e por isso sua fala, por mais bonita que seja,
se torna vazia.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

racionalizar para atuar

em que parte dessa dinâmica estamos? e ao reconhecer esse ponto, usá-lo como partida para a transformação que buscamos. em que momento do capitalismo estamos inseridos? a qual fase socio-econômica estamos impostos? como andam nossos direitos e deveres sociais? existe de fato a cidadania ou a democracia? como nos comportamos coletivamente? o que espera e faz o nosso individual? em que teoria basearemos nossas ações?


Hoje eu sugeri a um conhecido montarmos um grupo de estudos anarquistas, já sei como é difícil unir um grupo de estudos ainda mais voltado a essa temática, há muitos interessados para pouca articulação. Mas ficamos animados, subversivos do status quo e revolucionários de todos os locais e tempos devem sempre contar com a insuficiente quantidade de pessoas comprometidas de fato com a causa.

Mais tarde durante a aula de evolução do capitalismo, o professor fez uma citação a Bauman e a modernidade líquida, exemplificou falando como somos bombardeados de informações através da mídia e da internet e o quanto isso não nos deixou mais intelectuais, pelo contrário, nos burrificou, somos uma multidão de defensores de opiniões sem conhecimento algum. Ele fez essa correlação para explicar como o capitalismo não foi uma coisa dada pronta e validada imediatamente, mas um sistema dinâmico de transformações sociais e econômicas no decorrer da história humana, e se consolidando até hoje ao se adaptar de acordo com as necessidades e contexto de cada época. Não adianta querer derrubá-lo só por derrubar, se faz necessário um conjunto de entendimentos e processos para se desenvolver um outro conceito de sistema político-econômico.

Foi aí que eu lembrei do grupo e percebi que precisamos ser realistas ao criar nossa teoria se de fato aspiramos grandes mudanças. A utopia é muito gostosa de se apegar, ela nos mostra um lugar lindo e harmonioso em meio ao caos e a irracionalidade. Mas ela só serve como um horizonte distante, em que temos que correr atrás, nos servir como base no presente para um resultado no futuro o qual nem vivenciaremos. Não adiantar se moldar com base numa teoria que não dará certo, que é fraca. Falo dos comunistas cegos que defendem uma posição que não é viável atualmente, por exemplo, se baseiam em conceitos importantes mas se apoiam em modelos antigos que não nos cabe mais. Na maioria das vezes nossas intenções são as melhores possíveis, pautadas na solidariedade e liberdade, mas nossas ações são ineficientes e rasas. Por isso facilmente nos tornamos massa de manobra.

É preciso estarmos cientes do momento histórico em que estamos e conscientes do nosso papel para sermos eficazes em nossas ações. Isto é, pesquisar, estudar, refletir e entender quais variáveis envolvidas nesses processos e de que forma podemos agir com um alto custo-benefício (rs). Saber em quem e no que podemos confiar para progredir, quais valores e princípios podemos transcender. A vida não é dada pronta, é dinâmica, a evolução, universo em expansão, sociedade em desenvolvimento e estamos no meio disso, contextualizados, conectados, muito longe do fim.

Carente de profundidades I

Você observa e aceita as inseguranças do outro, as compreende; e ele te adora por isso. Mas, quando você precisa ser compreendida ou só simplesmente não julgada e criticada, querendo apenas um ombro amigo, o outro não compreende suas inseguranças e te abandona.
Não tem me faltado carinhos, mas não sou de afetos frequentes nem excessivos, sei que o meu amor mora justamente na tentativa incessante de compreender o outro e aceitá-lo. E nisso, tenho dado muito e recebido muito pouco.
Acho que é todo um exercício que as pessoas no geral tem preguiça de fazer, porque é necessário se despir de suas convicções e preconceitos para se chegar mais perto do outro e ainda assim ter em mente que você não sabe nem sente o mesmo que ele e por isso nunca entenderá perfeitamente o seu contexto.
Entretanto, só a tentativa já é tão reconfortante: troca-se ofensas e desprezos por diálogos e críticas construtivas, banimos o ódio e a violência, deixando espaço para a tranquilidade e humildade; e até discordando, estamos concordando em discordar. Dispostos a manter a calmaria e a fortalecer nossos laços.
E mesmo que eu tenha dado muito e recebido muito pouco, eu me sinto abraçada por mim mesma, por estar me abrindo às dúvidas, a novos questionamentos e posições, e me limpando de preconceitos e certezas frívolas. É tão bom me espelhar no universo e estar em constante expansão... só queria que mais pessoas se sentissem assim.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Zona Hermética (trecho) - Manoel de Barros

" Fez-se um silêncio branco... E aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema."