segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Mulheres do fim do mundo

A questão da descriminalização do aborto no Brasil é racista, classista e machista. Nós já sabemos: mulheres ricas, em sua maioria brancas, se desejam o aborto, tem condições de viajar para um país onde é legal abortar e fazer o procedimento sem perigo algum. O cenário é totalmente inverso se são mulheres pobres, em sua maioria pretas, que além de conviver com a violência social tem que enfrentar a violência de gênero. Se querem abortar, não tem a quem recorrer, se sujeitam a procedimentos nocivos à saúde e correm o risco de serem presas, se sobreviverem. Isso porque a bancada apocalíptica da política que rege o país, formada em sua maioria por homens, em sua maioria brancos, decidiu que era proibido, numa disparidade absurda com a realidade das mulheres negras.

Os argumentos pró-vida não convencem pois não condizem com os fatos. Como falar de pró-vida para uma mulher de periferia que vê os filhos teus morrendo de fome? Pró-vida onde a violência reina e mata todos os dias? Pró-vida existe nas mãos da polícia? Você quer que essas mulheres parem de abortar? Então melhoremos as condições de vida da população pobre, criemos políticas públicas que deem a certeza para a mãe preta de que seu filho preto não irá morrer de fome nem ser assassinado porque o "confundiram" com um bandido, por ter a cor que o racismo adora violentar.

Sem precisar falar que proibir nunca impediu ninguém a nada. E que, enquanto a gestão política for governada por burgueses e religiosos, nós mulheres, nós pobres, nós pretas, nunca teremos direitos plenos de liberdade e sobrevivência. Permanecer marginalizadas é lucrativo para esses governantes. Esperar e até mesmo reivindicar os direitos básicos para esses senhores soa como uma piada de mal gosto. Busquemos outras alternativas, então. Para melhorar temos que estar esclarecidas de nossa situação e de nossa comunhão. Como ajudar umas às outras? Como cuidar de nossas mulheres e nossos homens? Como proteger nossas vidas e famílias?