terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte IV

Vou
e não quero que saibam
aonde sou.
Sigo
e não quero que digam
por onde sevo seguir.

Quero ver
não me deem olhos
Quero pegar
não me deem mãos
Quero sentir
não me deem sentimentos
Quero tudo
não me deem nada.

Não
não quero engenheiros nem arquitetos,
nem planos, plantas ou papeladas.
Não quero máquinas de terraplanagem
nem quero pontes sobre os meus rios.
Não quero carros nesta viagem
nem quero barcos no meu mar.
Não quero lâmpadas neste caminho.
Nem quero túneis transpondo os montes.
Não quero companhia, devo ir sozinho
nem quero palavras, quero ir calado.

Vou neste meu caminho
nele existe: tudo e nada.
Vou descalço pisando espinhos,
tropeçando em pedras me agarrando em nada.

Sei que um dia chego
Mas não sei o dia da chegada
Caminho e às vezes cansado penso
em parar e canso mais na parada.

↠↞

Ando...
e pela rua, meu olhar
cruza os olhares
e minha vista se perde
na vista que me oferece
a rua.
Sigo em meu andar lento
e meu olhar já não cruza
os olhares à minha vista.
ah!
A minha vista.
Onde está a minha vista?
A minha vista se perdeu 
na vista que me ofereceu
a rua.

[Hermes Simões - Itabuna]


UM RARO MOMENTO COLORIDO
quem sabe
amanhã de manhã
o pardal vai cantar
no fio elétrico
que passa perto
de minha janela
e eu vou-lhe fazer coro
assoviando minha felicidade?

[Jane Kátia Mendonça - Ilhéus]


POSSE
nada tenho
nada tive
nada terei por certo
ter
é uma posse
de muita responsabilidade

DECISÃO
hoje 
quero tomar
champanhe
com todos meus amigos
e sorver amor
na mesma taça
hoje
eu quero abraçar
todas as mulheres
que ousaram atravessar
o tempo
e diminuir 
o medo da morte
hoje
quero banhar-me
em rosas
enxaguar-me em narcisos
e secar naturalmente
na corola macia dos lírios.

[Maria Antonieta Mota - Salvador/Itabuna]