domingo, 7 de janeiro de 2018

Novos Poetas da Região Cacaueira (1982)

parte II

OS DIASAssim perdemos os sábados.
Deitados ficamos como um relógio imóvel
enquanto o tempo passa.
O tempo, impiedosa
fera, nunca espera
que se dê o último retoque
nas vestes.
Assim perdemos os dias.
Salvar a vida é segurar as horas.
Saltar de pé e acompanhá-las,
desnudo embora.  
CONSTRUÇÃOPalavra sobre palavra
levantarei o poema.
Levarei até às nuvens
asas e silvos deixados
por aves que me habitavam.
Pena sobre pena
pois construí-lo é mais
que contemplar o vário
e deitar-se ao largo.
Porém, seu contrário.
Palavra sobre palavra
lavrarei sua áspera
couraça de silêncio
mesmo que o tempo o destrua
como qualquer pedra. 
CIÊNCIAComo saber se é tarde ou manhã
quando as horas se evolam
nesse búzio imóvel
que nunca responde?
A poeira do mundo
invade a vida e convivemos
num formigueiro
que nos consome.
Como saber o que se esconde
se somos homens?
Apena sabemos
a falta, a fome. 
QUIMERAcheirar hálito
quente da manhã
caminhar sobre
arco-íris, levando
solidão nos bolsos,
sorrisos nos pés
e ressuscitar assim
a velha primavera:
solúvel quimera. 
GRITO DE POESIA quero a poesia
memória do meu tempo
grito de todas as dores
na boca do mundo esfarrapado
em trapos de amor
entre muros. 

[Carlos Roberto Araújo - Ibirapitanga]