quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Adriano Dias

Cansado,
Aceito
O sim, o não, o assalto, o açoite, o acidente.
Aceito os argumentos estúpidos,
Só falácias, eu sei, mas contundentes.
Aceito o falso moralismo
Em seu escrúpulo tão bem interpretado,
Com nojo, mas sem luta.

Derrotado,
Assumo
As culpas que me imputam,
Mais as que me inventam,
E me deixo levar ao cadafalso
Com a leveza amarela,
Ainda que libertadora,
De quem não achou fresta na malha de ódio
Por onde escapar.

Submetido,
Admito:
Os bichos ternos são trucidados justamente por sua ternura,
Servindo, em seguida, como estandarte para um próximo massacre,
Em seu nome, que ironia.
Em vida, a voz constrangedora do amor é sangue escorrendo em águas de tubarões.
Foi assim com todos os mártires,
E eram tão melhores que eu,
Mereciam tão menos a barbárie que sofreram.
Mas é ao que servem, os doces,
Após mortos são mais úteis.

Abatido,
Além de descansar,
Talvez eu fique maior
E seja útil à manutenção da raiva,
Essa, sim, força motriz do homem.