terça-feira, 10 de maio de 2016

Velho Buk em O estouro

demais

tão pouco


tão gordo

tão magro

ou ninguém.


risos ou

lágrimas


odiosos 

amantes


estranhos com faces como

cabeças de

tachinhas


exércitos correndo através

de ruas de sangue

brandindo garrafas de vinho

baionetando e fodendo

virgens.


ou um velho num quarto barato

com uma fotografia de M. Monroe.


há tamanha solidão no mundo

que você pode vê-la no movimento lento dos

braços de um relógio.


pessoas tão cansadas, mutiladas
tanto pelo amor como pelo desamor.

as pessoas simplesmente não são boas umas com as outras
cara a cara.
os ricos não são bons para os ricos
os pobres não são bons para os pobres.

estamos com medo.

nosso sistema educacional nos diz que
podemos ser todos
grandes vencedores.

eles não nos contaram
a respeito das misérias
ou dos suicídios.

ou do terror de uma pessoa
sofrendo sozinha
num lugar qualquer
intocada
incomunicável
regando uma planta.

as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.

suponho que nunca serão.
não peço para que sejam.
mas às vezes eu penso sobre
isso.

as contas dos rosários balançarão
as nuvens nublarão
e o assassino degolará a criança
como se desse uma mordida numa casquinha de sorvete.
demais

tão pouco
tão grodo
tão magro
ou ninguém
mais odiosos que amantes.

as pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.

enquanto isso eu olho para as jovens garotas
talos
flores do acaso.

tem que haver um caminho.
com certeza deve haver um caminho sobre o qual ainda
não pensamos.

quem colocou este cérebro dentro de mim?
ele chora
ele demanda
ele diz que há uma chance.

ele não dirá
“não”.