sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

- Meu psicanalista enlouqueceu

Freud diria que sou pura subjeção,
que sofro por incognitude e excessos,
que meus métodos são subversivos,
que minha garganta é pura metáfora,
que sou feita de restos e sonhos inacabados.

Já Ignácio aceita o adverso da palavra,
eu vi como mudou depois da terceira sessão,
deve ter sido o perfume almiscarado,
deve ter sido o suéter vermelho listrado,
aquela história de infância sem começo nem fim,
quem sabe o beijo molhado no canto da boca,
safado, louco, psicanaliticamente delicioso.

Ao contrario de Freud, Ignácio viu o paraíso,
deslisando seus dedos e seus olhos em mim,
eu ficava apenas ali, deitada sobre o divã,
e aqueles grandes olhos verdes vasculhavam,
a minha alma entre as minhas pernas semi vestidas.
Tênis, meinhas, sem pelinhos, shortinho xadrez.

Freud diria que sou contraditória e egoísta,
um vale inteiro de enigmas mal resolvidos,
que é uma questão de vazios a serem preenchidos,
que é um reflexo do leite não amamentado,
que é sobretudo uma questão de sexo e liberdade.

Mas sob um ângulo peculiar e de certa forma preponderante,
depois da décima primeira sessão, posso afirmar meus caros leitores,
que Ignácio é esquizofrênico obsessivo, com certeza,
Freud é japonês erradicado em plutão,
e eu apenas uma mera e alegre distração.

[Elisa Bartlett]