segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Nostalgia Cinza

Final de tarde, o tom rosa alaranjado colore o céu. Na varanda, seu Antônio, ou só Tonho para os mais chegados, prepara e fuma seu cigarro de tabaco e nostalgia. Lembrou dos sonhos que marcariam pra sempre sua vida mas que nunca se realizariam. Percebeu que não foi mais triste por isso, nem menos feliz. Talvez fosse triste reconhecer o quanto estamos controlados e limitados e por isso não conseguimos alcançar os objetivos mais íntimos, por serem imorais, proibidos ou caros demais. Mas foram anos muito bem vividos. É possível se moldar a novos gostos, mais reservados e aceitos. É possível ser feliz tendo o que não havia sido desejado, mas que foi acolhido de muito bem grado. Percebeu coisas que outrora consideradas importantes, não eram tão importantes assim e como as nossas prioridades mudam, gostos, opiniões e afins... Amou outras mulheres lindas, inteligentes e meigas, que não eram o amor da sua vida. Sonhou com paraquedismo, mas jogou futebol na praia todos os domingos, que não era seu esporte preferido nem tão desafiador e emocionante quanto, mas fez vários amigos. Seu maior desafio foi viver sem frustrações com o que tinha conseguido e tomado de emoções pelo caminho percorrido. Enquanto a fumaça se dissipa por sua silhueta, sentiu saudades do que viveu e do que também não aconteceu. Era tudo tão parte dele, como o sangue correndo nas veias e os desejos escoando de sua alma, que o faziam mais maduro e vívido. Sem esperar muito e se esforçando mais ainda, sua felicidade era o alto nível de satisfação que conseguira. Ele sabia, sua rotina de fumante já havia lhe ensinado: contentamento ou sofrimento, no fim só restam as cinzas.

finais felizes que não tive #1