domingo, 17 de julho de 2016

Expansão

Ela olhou pro céu. A mais antiga forma de expandir a mente humana. Talvez seja por isso que nos queiram de cabeça baixa, múltiplas hipóteses foram levantadas, derrubadas ou aceitas meramente olhando-se para o céu. Esse infinito abismo que nos espera. E aquilo lhe entorpeceu. A mais antiga droga alucinógena da humanidade: a curiosidade. Pelo pouco conhecimento que tinha, tentou imaginar o que estava a acontecer no mundo nesse mesmo instante em que olhava pro céu. Imaginação, esse infinito abismo que nos contempla.

Uma menina jogada no lixo na populosa, poderosa e desesperada China.
Uma outra menina ansiosa esperando o telefonema de um carinha da noite anterior.
Um garotinho que mal sabe falar e já o drogaram e já o deram uma arma e já matou muitos outros garotinhos num desses países africanos ensanguentados de guerra civis.
Um outro garotinho que vai cursar direito só para agradar ao pai.
Uma baleia jubarte vindo de águas geladas pra desovar em águas quentinhas nordestinas.
Uma tartaruga sufocada com uma sacola plástica no saturado Pacífico.
Uma crise sócio-política prestes a deixar milhares de pessoas sem emprego.
O religiosos e seu falso moralismo. Os liberais e seu fascismo. Os libertários e seu rebeldismo.
A teoria da relatividade e a da conspiração.
A sua própria super-teoria das super-todas as coisas. 

- De onde viemos? Para onde vamos? Qual sentido da vida? 
Não sei e suponho ser essa minha única certeza: nunca saberei. 7 bilhões de pessoas cercadas de tantos outros seres no mundo e isso não significa absolutamente nada. Como gigantes num universo de super-gigantes ou megabytes num sistema de terabytes. Um mundo cercado de bilhões de estrelas e tantos outros mundos. Uma luz que pisca entre todos os pisca-pisca do natal. 

E é por isso que não aceito a sociedade como ela é. Agem como se fossem os únicos, mas não são. Agem como se houvesse uma verdade absoluta sobre comportamento e regras, mas não há.  Acham, no alto de sua ignorância, que aparência e ambição vestida de conforto são importantes. Milhões e milhões de espaço esperando para serem explorados, milhões e milhões de partículas excitadas para serem descobertas e me querem atrasada, limitada, mesquinha. Sinto decepcioná-los, mas não posso contrariar a essência: diante da incerteza e movimento do infinito abismo, permanecerei sempre de mente e asas abertas, buscando expansão. E mesmo que não possa mudar o todo, posso ajustar a mim mesma, uma parte do todo, para ser o mais próximo de Universo que conseguir, porque o sou e ele me é. Ora caos, ora harmonia e o equilíbrio entre eles.