terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Exótico


(adjetivo)
1. Algo que não é comum, fora dos padrões; esquisito; excêntrico ou extravagante;
2. Algo que vem de fora; que não é originário de um mesmo país;


1. A beleza negra é tida como exótica. Já percebeu como é difícil ver mulheres negras estampando revistas tradicionais? E quando vemos, é tratada como exceção, como se fosse anormal ser preta e ser bonita. Nesse caso, o adjetivo exótica camufla o fenômeno de inferiorização: de um lado a mídia promovendo um padrão de beleza e comportamento europeu que quer nos clarear. De outro lado, as próprias pretas que, bombardeadas por críticas e discursos de ódio a sua cor, não conseguem se amar, se orgulhar de suas raízes e preferem reproduzir o racismo que sofrem.

Por experiência própria, senti muito isso quando resolvi assumir o cabelo natural. Se alguma preta quiser se parecer com uma branca, nas lojas encontra-se de tudo: produtos para acabar com o "frizz", para "modelar" ou "domar" os cachos, "diminuir o volume", para "alisar"... mas se essa mesma preta quiser cuidar da sua forma natural, haja pernada para encontrar produtos capilares adequados aos crespos. E as críticas mais duras que recebi no começo, foram de outras pretas que, alienadas e menosprezadas, se sentiam incomodadas, digo até intimidadas, com o meu black cada vez maior e imponente.

É foda. É um mundo onde somos desmotivados a sermos nós mesmos. Nos impõem regras para parecermos como querem que nós sejamos, nos distanciando de como realmente somos. Nos tornamos pecadores, alvos de ofensas pesadas, se optarmos pela individualidade e naturalidade. É... foda, mas não deveria ser.

2. Hoje, só no Brasil, somos 100 milhões de pessoas declaradas negras. (censo 2013) Sem contar nos outros países. Sem contar aqueles que o são mas tem vergonha de se auto-declarar. Sem contar que você pode não ter nenhum parente próximo de cor preta mas os brasileiros são frutos da miscigenação: índios, brancos e pretos, ou seja, temos o gene do índio americano, do branco europeu e do negro africano no nosso DNA.

Então ser negro não é exótico. Ser negro é comum. Ao andar pelas ruas brasileiras, encontramos gente de tudo que é cor, de tudo que é cultura, de tudo que é país e ainda assim insistimos na discriminação com os negros. O negro é associado ao crime, ao ladrão, ao marginal. Essa é a mentalidade do brasileiro que não percebe que estamos na favela por uma injustiça histórica. Somos a maioria na pobreza porque essa injustiça com a cor preta continua. Sendo assim, admirar e copiar os brancos europeus/americanos, com sua cultura exótica e egocêntrica, é muito mais fácil.

É muito mais fácil seguir cegamente uma cultura vinda de fora, que se auto-declara superior, do que aceitar a cultura negra como ela é: da cor escura, do cabelo crespo e negligenciada socialmente. Eu entendo, é difícil ver o lado bom quando todos estão dizendo que é ruim. É difícil criar autonomia e amor próprio numa sociedade que vende medo e lucra com insegurança. É difícil encontrar a beleza em meio ao desprezo e ao preconceito. É difícil mas não deveria ser.

Pense nos porquês.