terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Empatia

Normalmente passo batida, alheia a qualquer ser humano que esteja no meu caminho. Paro pra observar uma folha de coloração diferente ou um inseto de corpo inusitado, mas não me instiga prestar atenção nas pessoas. Isso não acontece quando estou chapada: fico muito mais sensível às coisas ao meu redor. Olhares, discursos, sensações, tudo se mistura e me rende infinitas reflexões por minuto.

Hoje foi no ponto de ônibus: uma mulher, que poderia muito bem não ser tão velha, mas com aparência envelhecida e roupas simples, carregando três sacos muito pesados de sabe-se lá o quê. Muitos homens sentados, nenhum sequer levantou o olhar. Muitas mulheres assistindo e nem se mexiam. Levantei e fui ajudar. Não era minha obrigação fazer isso, como também não era obrigação de nenhuma daquelas pessoas que estavam ali. Foi instantâneo, ela nem percebeu quando me aproximei e já fui colocando um dos sacos no ônibus e eu só percebi a gravidade do que tinha feito quando todos os "distraídos" começaram a me olhar com cara feia. Como se só naquele gesto, eu tivesse dado um soco de realidade neles. Me senti desconfortável ali, a senhora me agradeceu como se eu tivesse salvado a pátria, me senti mais desconfortável ainda por constatar que realmente aquilo que eu fiz era coisa de outro mundo. Empatia é a coisa mais rara do mundo.

Empatia. Ajudei aquela mulher porque sua face enrugada e expressão cansada mostravam uma vivência dura. Ajudei porque sua postura cabisbaixa e toda aquela situação provaram que é pouco apoio pra muita luta. E nesses incontáveis sentimentos por minuto, eu senti raiva do machismo que só é bom quando convém, me irritou a falta de sororidade entre as mulheres, mas colocando isso tudo no mesmo barco: me entristece profundamente a ausência de gentilezas.

Ninguém tem que fazer nada que não queira, mas a vida ficaria muita mais leve se pequenas gentilezas como essa se tornassem hábito. Estamos doentes internamente e isolados em multidões. Se, por exemplo, parássemos de só falar sobre ansiedade, depressão, tristeza, suicídio e passássemos a agir de forma positiva para com as outras pessoas, estaríamos muito mais felizes e sadios. Como um efeito dominó, um apoia o outro que apoia um terceiro e assim por diante. Isso é muito importante a todos nós enquanto sociedade. Evolução benéfica das relações. Solidariedade. Harmonia. Paz.  Você se doar para ajudar o outro, é se ajudar, o sentimento é gratificante. É muito importante a todos nós enquanto indivíduo. O reconhecimento que o outro lhe dará, a felicidade que ele sentirá, você também sentirá. Eu também sinto. É lindo. "Toda felicidade que existe nesse mundo surge de desejar que os ouros sejam felizes."