ovelha negra a ser livre condenada
à dor, violenta e violentada
pelas mentes condicionadas
a impor e espalhar o horror
sarro com o meu gênero
escárnio com a minha cor
com o pigarro do meu cigarro
escarro o seu pudor
a lágrima escorre e transborda
meu copo cheio de convicções vazias
cheio de crenças tortuosas
meu corpo inunda em melancolia
afundado em desprezos infundados
com doses amargas de tristeza
transformo cada agonia com leveza
em minha defesa, extravaso
mais que vícios e resquícios
não sou náufrago;
do outro lado do precipício
sou mar, imensidão
em solitude me vejo maior
me renovo de sal, de sol, sem dó
buscando expansão
contemplo a raiz tradição
de cada canto, poesia, pranto
de Carolinas, Ruths e Clementinas
me encontro e me encanto
à dureza dessa sina
por Dandaras, Marielles, Marias Felipas
guerreiras que lutaram de peito aberto
o horizonte distante a todo instante
navega cada vez mais perto
por isso mesmo exaustada,
nadarei correnteza adentro
afogarei que nem maré alta
quem abalar meu epicentro