domingo, 17 de junho de 2018

Do poder hipócrita

a François duc de la Rochefoucauld


O pé tem a ver com o pontapé e com o balé.

A mão tem a ver com o afago e com a agressão.

A boca tem a ver com o beijo e com o vitupério.

Assim como a saliva tem a ver com o gosto e com o escarro.

E o riso com o gozo e com o escárnio.

Ambos a se opor. Não há como ser um, se o outro for.

Razão direita e relação causal. Para o bem e para o mal.

Mas afinal, o que a Justiça tem a ver com a justiça?

A Igreja tem a ver com a fé? A métrica tem a ver com a poesia?

O rito tem a ver com o ato? Estelionato.

Quando não a sua negação, quanto têm de simulação?

A forma que deforma o sentido e oculta interesses inconfessados.

A farsa como o disfarce que autoriza a mentira socialmente consentida.

Quando não o seu oposto dissimulado pela capa do ilusionista?

O exercício do poder hipócrita na lei escrita. Lei que é para todos?

Palavras homógrafas, mas cognatos enganosos.

[ não consegui identificar o(a) autor(a), mas tá nesse link aí:
https://concertosgerais.wordpress.com/poesia-3/ ]