quinta-feira, 18 de junho de 2020

Slam #3


Analiso

O que vejo no caminho, os truques do discurso político
Tentando comprar as almas desse viveiro apocalíptico
Leis, armas, amarras do opressor contra o oprimido
Vivendo entre cultos, incultos, pastores cada vez mais ricos
Enquanto o rebanho de ovelhas sobrevive raquítico
Alimentado por frases hipócritas e meros paliativos
Direitos não são caridade, deveres incompreendidos
Pudor corrompido
No princípio era o verbo, anterior ao versículo
Versos perversos denunciam a dor de mais um cristo
Primeiro enxergam a cor da pele depois o sangue do indivíduo
Branco sarará, pardo mulato, preto retinto
A mão que afaga, a outra que aperta o gatilho
O dedo que aponta, lágrimas de crocodilo
Esmola mata de vergonha, mas a vergonha vicia.

Admito

Enquanto procuro um ninho, para procriar princípios
E criar um significado, um que a mim faça sentido
Pois o sofrimento também vicia, a morte em si já é um vício
Não desconsidero a razão dos que já partiram
Comove-me a emoção na lógica do auto sacrifício
Perder a vida por um caminho omisso
Ou passagem só de ida para um destino insubmisso
Ecos na minha mente, mistura de sentimentos e ruídos
Entre a aflição e a ambição, florescem desejos doloridos
Meus sonhos ainda vívidos não foram destruídos
Mais que vícios e resquícios, não sou náufrago
Do outro lado do precipício, sou mar, imensidão
Noites sombrias vieram, dias bons e ruins vem e virão
Não me intimido com isso, seguindo ao infinito e além
Eu mulher preta resisto.