Analiso
O que vejo no
caminho, os truques do discurso político
Tentando comprar as
almas desse viveiro apocalíptico
Leis, armas, amarras
do opressor contra o oprimido
Vivendo entre
cultos, incultos, pastores cada vez mais ricos
Enquanto o rebanho
de ovelhas sobrevive raquítico
Alimentado por
frases hipócritas e meros paliativos
Direitos não são
caridade, deveres incompreendidos
Pudor corrompido
No princípio era o
verbo, anterior ao versículo
Versos perversos
denunciam a dor de mais um cristo
Primeiro enxergam a
cor da pele depois o sangue do indivíduo
Branco sarará, pardo
mulato, preto retinto
A mão que afaga, a
outra que aperta o gatilho
O dedo que aponta,
lágrimas de crocodilo
Esmola mata de
vergonha, mas a vergonha vicia.
Admito
Enquanto procuro um
ninho, para procriar princípios
E criar um
significado, um que a mim faça sentido
Pois o sofrimento
também vicia, a morte em si já é um vício
Não desconsidero a
razão dos que já partiram
Comove-me a emoção
na lógica do auto sacrifício
Perder a vida por um
caminho omisso
Ou passagem só de
ida para um destino insubmisso
Ecos na minha mente,
mistura de sentimentos e ruídos
Entre a aflição e a
ambição, florescem desejos doloridos
Meus sonhos ainda
vívidos não foram destruídos
Mais que vícios e
resquícios, não sou náufrago
Do outro lado do
precipício, sou mar, imensidão
Noites sombrias
vieram, dias bons e ruins vem e virão
Não me intimido com
isso, seguindo ao infinito e além
Eu mulher preta
resisto.