quinta-feira, 11 de junho de 2020

Ver no escuro

Uma vez quiseram me louca, a arder
e eu ardi com uma discrição
de um fogo posto
porque a cura vai na mesma direção
que a nossa febre

Ateei-me como um relâmpago inesperado
à luz do dia
Eu parecia uma basílica em chamas
de altar por estrear, a arder sozinha

Sempre me recusei a arder como os outros

Ardam-se mais à esquerda ou mais à direita
mais ao vento de sul ou de norte
mas labaredem-se, sejam fogos que ardem!

Porque pior que desdita loucura
é toda gente andar em brasa
mas ninguém chegar a incêndio

E no fim são todos cinza.

Cláudia R. Sampaio